Idosa que passou duas semanas a viver debaixo de um viaduto em Coimbra já tem tecto

Septuagenária estava na rua desde que casa que ocupava foi demolida no processo de construção do Sistema de Mobilidade do Mondego.

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Maria Rosa Jesus está há quatro anos em Coimbra vinda de Castelo Branco Câmara Municipal de Coimbra

Ao fim de duas semanas a dormir na rua, Maria Rosa Jesus encontrou um sítio para ficar. A mulher de 70 anos estava a viver debaixo do viaduto do Calhabé, no centro de Coimbra, junto ao Estádio Cidade de Coimbra, depois de a casa que ocupava ter sido demolida pela Infra-Estruturas de Portugal, na empreitada de construção do Sistema de Mobilidade do Mondego.

Segundo conta ao PÚBLICO Maria Rosa Jesus, vivia há cerca de cinco meses na antiga casa do guarda da linha do apeadeiro de São José, depois de uma outra casa que tinha ocupado há quatro anos, também perto do apeadeiro, ter sido igualmente demolida. Estas foram as alternativas que encontrou para se alojar, diz, depois de ter tentado arrendar casa sem sucesso, rejeição que atribui à sua etnia cigana.

A idosa, cuja história começou por ser tornada pública pelo Notícias de Coimbra, deixou Castelo Branco, onde residia, há cerca de quatro anos, para estar mais próxima do marido e dois filhos, que estão a cumprir pena no estabelecimento prisional de Coimbra. Não tinha possibilidade de fazer deslocações tão grandes, conta. “Esta casa”, diz, enquanto aponta para os destroços que restam da pequena habitação, “estava aberta, mas muito suja”. E prossegue: “Limpei-a e meti-me lá. Para onde é que ia uma mulher sozinha?”

As noites têm estado particularmente frias, lamenta, enquanto conversa com o PÚBLICO, sentada ao sol numa das duas cadeiras de plástico que, com outras duas mesas de plástico, uma cama e alguma roupa compõem a lista dos seus bens pessoais. A idosa refere que só não tem passado dificuldades ainda maiores, porque as pessoas que vivem naquela zona da cidade “têm ajudado com alguma coisa”. Maria Rosa Jesus diz ainda que foi visitada por técnicos da Câmara Municipal de Coimbra – o que a autarquia confirma –, mas aguardava ainda uma solução.

De acordo informação prestada por fonte da autarquia ao PÚBLICO, já na tarde de quarta-feira, a vereadora Ana Cortez Vaz, que tem o pelouro da Acção Social e da Habitação Social, esteve no local para se inteirar da situação. Foi então possível chegar a uma solução, adiantou a autarquia. Maria Rosa Jesus confirmou a notícia, explicando que ia mudar-se para um espaço disponibilizado “por um colega” que desconhecia previamente a situação em que a idosa se encontrava. O alojamento é em Coimbra, o que lhe permite manter-se próxima de marido e filhos. A CMC, que lembrou que a idosa ocupava a casa do guarda ilegalmente, comprometeu-se em transportar os haveres de Maria Rosa até à nova morada.

Ainda antes deste desenvolvimento, a CMC explicou aos jornalistas que fez várias diligências para resolver a situação da idosa. Na primeira semana do ano, referia a autarquia, Maria Rosa Jesus “foi informada pelos Serviços de Habitação da CMC que não existiam habitações municipais disponíveis para a realojar, pelo que teria de encontrar alternativa habitacional junto de familiares”.

Mantendo-se na rua, a autarquia “contactou a Linha de Emergência Social da Segurança Social para aceder a um quarto numa pensão”, mas foi referido que, como a idosa “é beneficiária de uma pensão de velhice do regime não contributivo”, teria de resolver “a situação pelos seus meios”. A câmara diz que tentou ainda “encontrar uma alternativa digna” junto de várias instituições, mas que também ali não havia vagas. Uma das instituições disponibilizou um quarto, mas a idosa terá dito que só se mudava se pudesse levar a sua mobília consigo.

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