Há 14 anos que a Amazónia não perdia tanta floresta

Novos dados sobre a desflorestação na maior floresta tropical do planeta confirmam tendência de destruição dos últimos anos.

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A desflorestação na Amazónia está a pôr em causa a sustentabilidade da floresta tropical Ueslei Marcelino / Reuters

No ano passado, a desflorestação na Amazónia continuou a bater recordes, perante a indiferença do Governo de Jair Bolsonaro. Desde 2008 que a floresta tropical não perdia uma área tão grande como ao longo do ano passado, de acordo com os dados do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazónia).

A desflorestação subiu 29% ao longo de 2021 em comparação com o ano passado, tendo sido perdidos cerca de dez mil quilómetros quadrados de floresta nativa (uma área pouco superior à ilha de Chipre), revelam os dados obtidos por satélite e divulgados pelo Imazon.

Os dados conhecidos esta semana estão alinhados com as estimativas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), um organismo federal que apontava para uma desflorestação de 13 mil km2 entre Agosto de 2020 e Julho de 2021. Mais de metade da desflorestação registada entre Janeiro e Outubro ocorreu em terras públicas, onde é proibida a exploração comercial, segundo a BBC.

Desde 2018 que a tendência de perda da floresta tropical não pára de aumentar, gerando uma enorme preocupação em todo o mundo com a sustentabilidade da Amazónia. O ecossistema, cuja maior extensão se encontra em território brasileiro, tem um papel determinante para a absorção do dióxido de carbono e para a manutenção da temperatura média do planeta, para além de ser um factor com muita influência no clima da América do Sul.

Há muito tempo que cientistas que estudam a região alertam para a aproximação do chamado “ponto sem retrocesso” da desflorestação, um momento a partir do qual a regeneração da floresta tropical passa a estar comprometida e a Amazónia começará a entrar em colapso. Estima-se que, com a progressão da destruição da floresta, esse momento esteja iminente.

Na cimeira do clima organizada pelas Nações Unidas, a COP26, em Glasgow, o Governo brasileiro comprometeu-se a acabar com a desflorestação ilegal até ao final da década. No entanto, desde que Bolsonaro chegou ao poder, em 2019, as taxas de desflorestação só aumentam, apesar de inúmeras garantias dadas por responsáveis governamentais de que o país leva a sério a protecção ambiental.

O Governo federal desinvestiu muitos recursos nos órgãos de protecção, como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais), para além de ter enfraquecido a legislação que pune a exploração ilegal de madeira em zonas protegidas. O próprio Bolsonaro critica o que diz ser a “indústria da multa” dos órgãos de protecção ambiental e incentiva a exploração de recursos mesmo nas áreas protegidas da Amazónia.

O número de multas na área ambiental tem caído a pique desde que Bolsonaro entrou em funções. Em 2020, houve cerca de 11 mil infracções, o que equivale a menos de metade da média anual de multas na primeira década do século, segundo a imprensa brasileira. Os especialistas interpretam estes dados como um sinal forte de impunidade para todos aqueles que desejam explorar os recursos da Amazónia e de outros ecossistemas protegidos.

No Congresso federal, alertam os activistas ambientais, estão a ser debatidos vários diplomas legislativos que põem em causa os compromissos de redução da desflorestação, tais como uma lei que autoriza a exploração mineira nas terras indígenas. “Existe pressão no Congresso para a redução de áreas protegidas e, também, existe uma pressão para garimpo [mineração], para actividade madeireira nesses territórios que não são permitidas por lei”, diz o investigador do Imazon Carlos Souza Júnior, citado pelo site G1.

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