Utentes de Lisboa continuam à espera das novas unidades de saúde

Unidades de saúde familiar do Restelo, Marvila e Ajuda, cuja abertura estava prevista para o final de 2021, continuam de portas fechadas. Presidente da Junta de Belém culpa a falta de profissionais de saúde, mas ARSLVT diz que centros ainda não lhe foram entregues pela autarquia.

Foto
Unidades de saúde das primeiras fases de construção devem estar operacionais até ao Verão JFF Jose Fernandes

Por esta altura, algumas das novas unidades de saúde familiar (USF) de Lisboa, em construção ao abrigo de um acordo entre a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), já deveriam estar em funcionamento há cerca de um mês. É o caso das unidades do Restelo, de Marvila e da Ajuda, que a Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU), empresa municipal encarregada da construção, havia anunciado que iriam abrir “portas no 3º trimestre de 2021”. Mas isso não aconteceu.

A parceria, celebrada em 2017, prevê a construção de 14 novas unidades: numa primeira fase, no Areeiro, na Alta de Lisboa, no Restelo, no Alto dos Moinhos, em Alcântara e no Beato; numa segunda fase, na Ajuda, em Marvila e em Benfica (Fonte Nova); de seguida, em Campo de Ourique, Sapadores e na Ribeira Nova; e, por fim, em Arroios, Telheiras e no Parque das Nações.

As unidades da Alta de Lisboa, do Areeiro e do Alto dos Moinhos já se encontram abertas, mas as unidades do Restelo, Beato, Alcântara, Marvila, Ajuda e Benfica (Fonte Nova) ainda não estão operacionais, ou porque a finalização da construção está apenas prevista para 2022, ou porque sofreram atrasos.

Contactada pelo PÚBLICO, a SRU assumiu que se verificam atrasos nalgumas intervenções, por razões como a “necessidade de introduzir trabalhos adicionais de arranjos exteriores e acessibilidades na envolvente dos edifícios”, “atrasos na construção de ramais por parte de entidades externas” e ainda “problemas relacionados com a covid-19 dentro dos estaleiros e das obras”. Mas, “salvo alguma circunstância absolutamente imprevisível”, a empresa não espera que a derrapagem dos prazos das primeiras duas fases da empreitada venham a atrasar as restantes fases previstas.

A SRU esclareceu ainda que a responsabilidade é partilhada com a ARSLVT, uma vez que a abertura das USF “depende não apenas da sua conclusão, mas também do equipamento que é posteriormente colocado pela ARSLVT e da alocação de meios técnicos”, processo que costuma levar dois meses.

Assim, as unidades que já se encontram concluídas, como a do Restelo e de Marvila, deverão abrir em Fevereiro de 2022 e as novas datas de abertura das restantes USF, da primeira e segunda fases, situam-se entre Abril e Julho de 2022. Concretamente, está planeado que as USF do Beato e da Ajuda sejam inauguradas em Abril, a de Benfica (Fonte Nova) em Maio e a de Alcântara em Julho.

Atrasos no Restelo por falta profissionais de saúde

No caso da unidade do Restelo, os atrasos não se relacionam apenas com as obras e a instalação dos equipamentos internos, mas também com a falta de profissionais de saúde, disse o presidente da Junta de Freguesia de Belém, Fernando Ribeiro Rosa (PSD), em declarações prestadas ao PÚBLICO.

“O maior problema tem sido ao nível das equipas [de profissionais de saúde], que a covid-19 não ajudou nada”, afirmou o autarca, que considera “inadmissível” a unidade de saúde estar “parada este tempo todo, quando há tanta gente sem médico de família”.

Devido à falta de profissionais, a USF da Rua Carlos Calisto deverá abrir apenas com os serviços mínimos, ou seja, quatro médicos e quatro enfermeiros, um dos quais apontado pelo Ministério da Saúde, quando teria capacidade para entre seis e oito médicos e enfermeiros, disse.

O presidente da junta referiu ainda que vários médicos se voluntariaram para trabalhar naquela unidade de saúde, mas que o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) não aceita a transferência de mobilidade dos profissionais. Contudo, de acordo com a ARSLVT, encarregada de contribuir com equipamentos e profissionais de saúde para as USF, “não há atraso na entrada em funcionamento das unidades de saúde”, sendo que as unidades do Beato, Alcântara, Restelo, Marvila, Ajuda e Benfica (Fonte Nova) ainda não foram entregues à entidade pela autarquia, por estarem em construção.

Também segundo a Administração Regional de Lisboa e Vale do Tejo, no caso das unidades que vão substituir outras mais antigas, os profissionais de saúde vão transitar de instalações. “Noutros casos, os edifícios são unidades novas a acrescentar às que já existem e aí haverá lugar a alguma reorganização das equipas”, acrescentou a ARSLVT em resposta ao PÚBLICO.

No âmbito do programa Lisboa, SNS Mais Próximo, que procura requalificar as infra-estruturas e os equipamentos de cuidados de saúde primários, as novas unidades de saúde familiar de Lisboa deverão beneficiar mais de 305 mil utentes e ter um custo superior a 50 milhões de euros.

Texto editado por Ana Fernandes

Sugerir correcção
Ler 1 comentários