Horta Osório demite-se do Credit Suisse por violar regras da pandemia

Banqueiro foi substituído com efeitos imediatos. Português reconhece que, ao incumprir as regras, a sua “capacidade de representar o banco” ficou comprometida.

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António Horta Osório esteve nove meses à frente do Credit Suisse DANIEL ROCHA

O presidente do Credit Suisse, o português António Horta Osório, demitiu-se do cargo depois de se saber que quebrou as regras de isolamento da pandemia duas vezes, em Julho e Dezembro.

A saída foi anunciada pelo banco nesta segunda-feira, um mês após as primeiras notícias sobre um possível incumprimento das normas sanitárias em dois países, o Reino Unido e a Suíça.

O banqueiro sai nove meses depois de assumir a liderança do grupo bancário suíço, onde foi substituído com efeitos imediatos por Axel P. Lehmann, membro da administração executiva do grupo sediado em Zurique.

Em Julho de 2021, Horta Osório violou as regras de isolamento quando foi assistir a um torneio de ténis de Wimbledon, no Reino Unido, onde estaria obrigado a cumprir uma quarentena de dez dias à chegada ao país.

As revelações foram tornadas públicas pelo jornal suíço Tages-Anzeiger, a partir de uma investigação interna promovida pelo próprio Credit Suisse.

No final de Novembro, Horta Osório voltou a incumprir as regras. No dia 28, ao chegar à Suíça de uma viagem, teria de fazer uma quarentena obrigatória de dez dias, decidida por causa da propagação da variante Ómicron​, mas o então presidente do Credit Suisse deixou o país logo no dia 1 de Dezembro, num jacto privado com destino à Península Ibérica, segundo noticiou o jornal Blick.

Este segundo incumprimento foi conhecido em primeiro lugar, poucos dias depois do sucedido. Horta Osório disse que não o fez de forma voluntária e pediu desculpa.

Citando o Blick, o jornal económico Financial Times refere que, inicialmente, Horta Osório terá procurado obter autorizações junto do Governo federal e do governo local para não ser obrigado a cumprir a quarentena, mas terá sido informado de que teria de seguir o isolamento dos dez dias.

Segundo a Bloomberg, o seu advogado escreveu uma carta às autoridades suíças a dar conta da possível violação das regras, que é punida por coima. Um mês depois, saber-se-ia pelo jornal Tages-Anzeiger que em Julho quebrara as regras noutra ocasião.

A permanência na presidência do Credit Suisse depois de os episódios terem sido conhecidos estava a colocar problemas internos, o que Horta Osório reconheceu na sua declaração de demissão divulgada nesta segunda-feira. “Lamento que algumas das minhas acções pessoais tenham levado a dificuldades para o banco e comprometido a minha capacidade de representar o banco a nível interno e externo. Por conseguinte, acredito que a minha demissão é do interesse do banco e das partes interessadas neste momento crucial.”

Antes de ir para o Credit Suisse, António Horta Osório liderava o grupo britânico Lloyds Bank desde 2011, onde fez a reestruturação do banco quando a entidade financeira estava sob controlo público no pós-crise financeira e onde liderou o processo de reprivatização com lucro para o Reino Unido.

Os bons resultados no banco e o percurso na City valeram-lhe, no ano passado, uma condecoração da rainha Isabel II, que lhe concedeu o grau de cavaleiro da Ordem do Império britânico, com o direito ao título de “Sir”.

Numa conversa com o Financial Times quando se preparava para rumar a Zurique, Horta Osório elegeu como ponto alto do período no Lloyds o momento em que o Tesouro vendeu as últimas acções na entidade financeira, a 17 de Maio de 2017. Se, no pico da crise, o banco “estava prestes a morrer”, o dia da reprivatização foi o momento de o banqueiro festejar entre a sua equipa o facto de o banco ter sido vendido com lucro para o erário: “Conseguimos. Devolvemos o dinheiro aos contribuintes.”

Mas o seu percurso no Reino Unido nunca foi isento de polémicas e críticas. Durante a presidência no Lloyds, o jornal The Sun revelou que o banqueiro, ao deslocar-se a Singapura em trabalho em representação do banco britânico, viajou acompanhado por Wendy Piatt, com quem alegadamente teve um caso extraconjugal, notícia que levou o então CEO a escrever aos trabalhadores para prestar esclarecimentos sobre o assunto e para lamentar que o episódio tenha causado “danos na reputação do grupo”.

Entre os pontos mais atacados pelos seus críticos estiveram também os elevados rendimentos que continuou a auferir durante um período de dificuldades para o banco, bem como o litígio com os clientes enganados pela instituição antes da chegada do português na compra de produtos financeiros. Embora Horta Osório tenha decidido iniciar um processo pioneiro na banca britânica de indemnização aos lesados, os clientes foram-se queixando ao longo dos anos de nunca terem sido acompanhados pela sua gestão.

Antes de liderar o Lloyds, o gestor português foi presidente executivo do Santander UK, vice-presidente executivo do grupo Santander e presidente executivo do Banco Santander Brasil. Em Portugal, foi, entre 2000 e 2006, presidente executivo do Santander Totta, S.A. e, mais tarde, chairman.

Na entrevista ao Financial Times, Horta Osório contou que “Emilio Botín foi, de longe, o melhor presidente executivo” que conhecera.

Neste momento, Horta Osório é administrador não executivo da Fundação Champalimaud. E assumiu no ano passado, também, o cargo de presidente do conselho de administração da Bial, substituindo Luís Portela.

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