CDU, a “locomotiva do Alentejo”, saiu da estação de Aljustrel para tentar travar o PS

No arranque da campanha oficial, João Oliveira ataca socialistas e assume coligação PCP-PEV como a “grande força da convergência à esquerda”. Neste domingo, a caravana da CDU tem ainda acções em Setúbal (à tarde) e em Almada (à noite), mas já com João Ferreira.

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A CDU arrancou a campanha oficial em Aljustrel, com João Oliveira a substituir Jerónimo de Sousa LUSA/NUNO VEIGA

Apesar de a vila ter chegado a ser o centro mineiro alentejano durante décadas, foi no largo frente ao mercado (também fechado ao domingo de manhã) que a CDU deu o apito de partida para a campanha eleitoral a autodenominar-se a “locomotiva do Alentejo”. João Oliveira, que assumirá o lugar de Jerónimo de Sousa nas iniciativas em todo o Alentejo até ao seu regresso à campanha, fez do PS o alvo principal de um discurso de quase meia hora em que procurou mostrar que os socialistas têm sido a “força de bloqueio” a muitas propostas comunistas nestes últimos seis anos e defendeu que os avanços que se registaram se devem todos apenas à insistência do PCP e do PEV.

“Não nos servem as maiorias absolutas, seja do PS ou de quem for, como também não nos servem os entendimentos entre PS e PSD que permitiriam o escancaramento da porta à política de direita que tem dado os maus resultados dos últimos 40 anos”, afirmou João Oliveira.

O deputado insistiu na imagem da CDU como a “força da política alternativa”, sem nunca mencionar o Bloco: “Somos nós a grande força da convergência à esquerda. E somos nós a força que vale a pena reforçar para garantir que as convergências necessárias a essa política alternativa se possam realizar.”

João Oliveira começou por procurar desmistificar a insegurança em tempo de pandemia, vincando que fazer campanha cumprindo as regras de segurança é também provar que “é seguro ir votar no dia 30 sem receios”. E depois partiu para o ataque ao PS, que “não queria soluções [no OE2022]; queria verdadeiramente eleições”. “O que está colocado no dia 30 é se o PS tem sucesso nesse objectivo de ter maioria absoluta, que lhe permite livrar-se de nós e da nossa força e governar de mãos livres sem ter que prestar contas a ninguém ou se, pelo contrário, não a tendo, se é a CDU que sai reforçada para que a política alternativa que é necessária possa ser concretizada.

O líder parlamentar avisou ser preciso não fazer a escolha apenas pelo que “se diz na campanha, mas sim a partir do que cada um fez e faz”. Porque “em altura de campanha eleitoral todos podem dizer tudo para agradar a toda a gente, mas é a prática que permite separar o trigo do joio”. Uma referência ao facto de o PS ter sempre colocado “entraves” a propostas do PCP. E “agora apropria-se” delas apresentando-as como suas. E o mesmo acontece com o PSD e CDS, acrescentou.

“A nossa intervenção neste distrito e região confirma que, de facto, a CDU é a locomotiva do Alentejo porque são as batalhas e objectivos que a CDU coloca como prioridade que faz com que em muitas circunstâncias tenhamos que ser nós a levar os outros atrás quando não querem ir”, afirmou, a dada altura, João Oliveira.

O retrato referia-se ao trabalho de formiga do PCP em matérias nacionais como o aumento das pensões, os manuais escolares, a redução do preço do passe social, a gratuitidade das creches (que o PS só aceitou metade, faltando a rede pública, vincou), mas também para as bandeiras da região como a construção da barragem do Alqueva, o aproveitamento do aeroporto de Beja, a construção do hospital de Beja, a reabertura dos CTT ou o reforço dos médicos de família, foi enumerando o deputado. Que acrescentou o caso da exploração nas estufas de Odemira, sobre a qual o PCP avisa há anos e agora os outros partidos vieram com a atitude das “sopas depois de almoço”, como se diz no Alentejo, ou seja: só descobriram agora o assunto como se fosse uma grande surpresa.

A lista de necessidades do distrito já tinha sido elencada por João Dias, o deputado e enfermeiro que volta a liderar a lista por Beja, que acrescentara a urgência de terminar o IP8 e de criar uma rede pública de lares numa região onde “a média das reformas ronda os 300 euros”, valor que torna quase impossível suportar o custo de um lar.

Na lista das respostas “alternativas” para o país, Oliveira incluiu o aumento dos salários e de todas as pensões, a habitação condigna. A que somou a regionalização: um assunto que os outros partidos recuperam “com apego” nas campanhas para o largar logo a seguir a “recolherem os votos”.

Os comunistas são contra o processo de descentralização levado a cabo pelo Governo de António Costa com o apoio do PSD e defendem a regionalização (chegaram a propor calendário e processo no Parlamento, chumbados por PS e PSD). Oliveira até lembrou que no referendo de 1998 o Alentejo foi a única zona do país a dar o sim às duas perguntas: a da realização da regionalização e à do mapa da região Alentejo. E rejeitou a “governação à Guterres” que Costa prometeu há dias: porque foi esse líder socialista que fez inscrever na Constituição o figurino do referendo com duas perguntas inseparáveis para se poder levar adiante a regionalização.

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