Cartas ao director

A natalidade

Curiosamente, no mesmo dia do editorial de Andreia Sanches - A natalidade e os “vistos gold” (PÚBLICO de 14 de Janeiro) e de um título do JN (Aumentou a não renovação de trabalho a grávidas), as duas publicações tocam nos dois principais factores da baixa natalidade em Portugal. Os empregadores que não renovam o contrato de trabalho por a colaboradora ter engravidado revelam tudo de quanto há de pior num empreendedor. Se é verdade que há alguma legislação que pretende contrariar esta situação, não é menos verdade que é muito fácil contorná-la.

Muitos casais gostariam de ter um filho ou desejavam um segundo desistem dessa opção, quando não recorrendo ao aborto tal o medo de perder o emprego. Esta é a triste realidade de um país cada vez mais velho com as terríveis consequências que terá a médio prazo.

António Barbosa, Porto

Contas certas

Não ponho em dúvida a firmeza democrática de Rui Rio. A sua prestação no debate com António Costa ofereceu-lhe dividendos, segundo sondagens credíveis de seguida divulgadas e opiniões dos, na maioria aliviados, comentadores ao serviço do pequeno/grande ecrã.

Veio-me à ideia de que, provavelmente sem intenção, o ex-presidente da Câmara do Porto haveria tocado uma corda sensível, subjacente ao inconsciente colectivo dos portugueses: “o político das contas certas” com que debutou o consulado salazarista. Poder-se-á julgar abusiva tal suposição. Os lusitanos terão já esquecido o político de Santa Comba Dão? Não. Ele próprio, erguendo-se do oblívio, vem esclarecer-nos: “Os homens mudam pouco e então os portugueses quase nada.”

Costa também recorreu ao passado; desenterrou o sepultado OE. Brandiu, “orgulhosamente só”, as folhas do Razão como faria o Poeta para (com)vencer o Patrão Vasques. E recomeçou, absolutamente, a contagem dos miúdos, isto é, dos trocos. O rodapé de um dos canais de televisão alertava, na sua destreza pendular, para a maior ameaça de guerra dos últimos 30 anos que impende sobre o teatro europeu.

Henrique Dinis da Gama, Lisboa

Rio e os preços das TAP

Vi na quinta-feira o debate televisivo entre António Costa e Rui Rio Confesso que fiquei verdadeiramente revoltado com a “jogada” de Rio ao atirar para a mesa os valores das viagens aéreas de Madrid para S. Francisco, ditas como mais baratas que as de Lisboa para S. Francisco e, contudo, operadas pela TAP.

Não há nada de inverosímel nesta afirmação que, além de mal-intencionada, carece de explicação para ser entendida como não prejudicial ou lesiva para a TAP. Trata-se, de facto, de um codeshare entre a TAP e a Delta Airlines onde, por definição, quem tem a responsabilidade do voo é a Delta. Este voo vem de Madrid e faz um stopover em Lisboa com mudança de avião para um aparelho da TAP que recebe o valor contratual (sem qualquer prejuízo) e pode inclusivamente (depende do que for escrito) dividir o lucro da operação com a companhia promotora.

Não acho que seja assim que se discute política. É desonesto e é pouco ético. Contudo acredito na honestidade de Rio e, portanto, só posso aceitar a má-fé de quem lhe passou estes elementos sem o avisar que a afirmação era um golpe muito baixo que não poderia ser desmentido in loco.

Joaquim Rebelo, Leiria

Democratas, mas pouco

Na quinta-feira houve o “grande debate” entre António Costa e Rui Rio, ou seja, entre PS e PSD. Há nove forças políticas representadas no Parlamento, mas só duas tiveram direito ao debate de horas. Será que as restantes forças não tinham programas de governo alternativos às destes dois partidos? Vistas as questões assim, concluímos que este debate foi claramente pouco democrático. Não só o debate foi pouco democrático como também foram pouco democráticos os que aceitaram esta forma de debate, ou não será?
Mário Pires Miguel, Reboleira​

Tudo encarece

Para um leitor que não dispensa a leitura de jornais, particularmente a leitura do PÚBLICO, um diário que, quer pelo rigor da sua informação, quer pela abordagem que faz dos temas culturais e científicos se pode considerar um dos melhores que se editam na Península Ibérica, o aumento do seu preço irá representar um sacrifício adicional na bolsa de muitos leitores que gostam de se manter informados. O preço dos combustíveis continua a aumentar quando cessará esta brutal escalada? – e, por consequência, tudo encarece disparando os preços de todos os produtos, bens e serviços. No caso do PÚBLICO o custo de 1,90 euros à sexta, sábado e domingo é francamente exagerado. É certo que aos fins-de-semana o jornal mantém suplementos de basto interesse (o Ípsilon, o Fugas e o Caderno 2 de domingo), mas a carteira ressente-se. Certamente que o PÚBLICO irá perder leitores. E é pena. Ou, então, esses leitores, deixarão de comprar o PÚBLICO todos os dias.

António Cândido Miguéis, Vila Real

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