PAN vs. PSD. Um debate para António Costa tomar notas

Inês Sousa Real pôs em cima da mesa as suas condições para dar apoio a qualquer Governo, seja ele PSD ou PS. Rui Rio elogiou disponibilidade mas repetiu várias vezes a necessidade de “equilíbrio” para discordar

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LUSA/JOSÉ FERNANDES

Dois dias depois de António Costa ter estendido a passadeira vermelha ao PAN para formar maioria caso o PS vença as legislativas com maioria relativa, a porta-voz do partido, Inês Sousa Real, aproveitou o debate deste sábado com o líder do PSD, Rui Rio, para pôr em cima da mesa as linhas vermelhas e as suas exigências de forma mais clara do que nunca.

E quais são essas? O regresso dos debates quinzenais do primeiro-ministro no Parlamento (que acabaram há pouco, fruto de acordo entre PS e PSD), diminuir o número mínimo de assinaturas para apresentação de petições no Parlamento (o aumento foi aprovado há pouco tempo pelo bloco central), acabar com a flexibilidade da contratação pública ("tão criticada pelo Tribunal de Contas"), colocar o sector das florestas na tutela do Ministério da Agricultura, retirar as matérias de protecção animal da DGAV, acabar com isenções fiscais a indústrias poluentes, rever as PPP rodoviárias e estudar uma localização alternativa ao futuro aeroporto do Montijo. A lista foi extensa e pormenorizada, à atenção de António Costa, que todas as sondagens dão como vencedor das eleições de 30 de Janeiro, mas sem maioria absoluta.

Inês Sousa Real explicou estar disposta a negociar quer com o PS, quer com o PSD, perante um Rui Rio que admitiu que, mesmo que ganhe as eleições, “vai ser difícil ter maioria absoluta”. É indiferente que seja um partido ou outro, perguntou o jornalista. “Nós batemo-nos por avanços e progressos civilizacionais, seja em matéria de protecção animal ou ambiental, mas há também reposições que temos de fazer do ponto de vista de direitos democráticos”, respondeu a porta-voz do PAN.

Rui Rio arrancou, pois, o debate a saudar a disponibilidade do PAN. “Queria elogiar esta atitude de abertura à negociação. (...) Se eu ganhar, vou ter que negociar, se quiser andar para a frente”, afirmou.

Mas depois foi discordando, ponto a ponto, de várias propostas do PAN. Os debates quinzenais visavam apenas o “espectáculo mediático” porque estava o primeiro-ministro e o Governo todo uma tarde inteira no Parlamento a responder a qualquer tipo de perguntas que os deputados quisessem fazer, incluindo “quando custa um quilo de batatas”. Para o social-democrata, o importante é “fiscalizar a acção do Governo” e isso faz-se através de audições com os ministros. “A política tem que ter credibilidade, tem que ser feita com seriedade e sem espectáculo”, insistiu.

Rui Rio usou várias vezes o argumento de que é preciso “equilíbrio e sensatez” para travar as ambições do PAN. No caso das PPP, concordou que são “um desastre” mas disse que os contratos existentes têm que ser cumpridos. Sobre taxar empresas poluentes, limitou-se a declarar ser “lógico que devemos penalizar quem polui” mas não explicou o que isso quer dizer exactamente.

Oposição a incentivos à plantação de eucaliptos (que constam do programa do PSD) ou a descida do IRS e do IRC ao mesmo tempo foram questões em que Rio e Sousa Real mostraram maior distância. “Não podemos agravar a dívida pública, que já vai em 130% do PIB, nem o défice. Tem que se fazer o equilíbrio possível”, argumentou o líder do PSD, defendendo que Portugal tem que ter “as finanças públicas equilibradas”. No caso do aeroporto do Montijo, respondeu que espera o resultado do estudo de impacto ambiental e que uma decisão tem que garantir “equilíbrio com a questão financeira”.

No caso das florestas, a porta-voz do PAN acusou mesmo o PSD de “querer voltar à lei de Cristas”, quando “Portugal é uma caixa de fósforos prestes a arder”.

Foi, portanto, um debate muito cordato mas que não escondeu algumas divergências profundas. Este foi o último debate frente-a-frente da pré-campanha. A campanha arranca este domingo e para a semana seguem-se os debates com todos os partidos, na RTP e nas rádios.

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