Cartas ao director

Debate Costa vs Rio

“Ou fazemos diferente ou os jovens emigram”. As palavras de Rui Rio durante o debate televisivo para as legislativas são conversa fiada. Os jovens vão continuar a emigrar porque os salários em Portugal não acompanham a evolução da massa salarial dos principais países europeus. Quanto ganha um enfermeiro em Inglaterra, França ou Alemanha? Os contribuintes portugueses pagam a formação desses especialistas para os países acolhedores receberem esses licenciados sem gastarem um tostão na sua formação. Quanto ganha um trabalhador português da construção civil ou um trabalhador indiferenciado nesses países? Ouviram António Costa ou Rui Rio anunciar plano concreto para retirar das ruas os sem-abrigo?

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

Democratas, mas pouco

Ontem houve o “grande debate” entre António Costa e Rui Rio ou seja entre PS e PSD. Há 9 forças políticas representadas no Parlamento mas só duas tiveram direito ao debate de horas. Será que as restantes forças não tinham programas de governo alternativos às destes dois partidos? Vistas as questões assim, concluímos que este debate foi claramente pouco democrático. Nem só o debate foi pouco democrático como também foram pouco democráticos os que aceitaram esta forma de debate, ou não será?

Mário Pires Miguel, Reboleira

Costa e Rio deram mau exemplo

O inaceitável conchavo dos canais generalistas da televisão - TVI, SIC e RTP, com a agravante desta ser paga por todos nós, ao transmitirem o debate, com mais do dobro do tempo de todos os outros, entre António Costa e Rui Rio - foi um atestado de menoridade, marginalização e desprezo político, para com os demais partidos. A essência do socialismo e da social-democracia não é compaginável com esta afronta às outras organizações políticas, que ficaram deliberadamente numa posição inferiorizada...

Para querer chegar à maioria ou ganhar eleições, não pode valer tudo. Mas, o socialismo de Costa é poucochinho social-democrata e a social-democracia de Rio é um atentado à honestidade política intelectual. Estes dois políticos, ao aceitarem este debate em condições muitíssimo mais vantajosas, por comparação aos restantes, deram mais um mau exemplo de como não deve ser o confronto democrático, ficando desfocados e desbotados na fotografia.

São estes comportamentos políticos que nos mobilizam para depositarmos o nosso voto em urna? Não, não são! Na noite de 30 de Janeiro, não se admirem e não lamentem a forte abstenção.

Vítor Colaço Santos São João das Lampas

Muito mais é o que os une…?

“Fechem os olhos e ponham lá a cruzinha”. Consta que esta terá sido a expressão usada por Álvaro Cunhal para instruir aos seus camaradas o voto útil em Soares na segunda volta das presidenciais de 1986. Certo que os comunistas preferiam este último a Freitas do Amaral e quem nunca votou contrariado num mal menor, que atire a primeira pedra. Foi um sapo que tiveram de engolir e não se viu Soares e Cunhal de mãos dadas em devaneios românticos de um “muito mais é o que nos une do que aquilo que nos separa”: “Olhe que não, olhe que não…!”

Compreende-se que o PC e o BE tenham preferido recentemente um governo do PS a um do PSD. O que não se entende é o sapo ser apresentado transfigurado em delicioso leitão. O modelo de sociedade historicamente defendido pelo PS não tem nada em comum com o dos regimes comunistas totalitários cujas aplicações ao longo de um século apenas provocaram decadência e ruínas de várias naturezas. Apresentar esses projectos e o PS irmanados num manto de uma esquerda virtuosa é um embuste, ou então o PS mudou muito e com ele não vamos longe.

Não sabemos o que sairá das próximas eleições. Esperemos não acabar em novo casamento ambíguo com dote excessivamente elevado. Para lá da improvável repetição de algo na escala dos 3200 milhões da nacionalização da TAP, o atraso e o marcar passo do país com cedências a concepções económicas e sociais que já demonstraram cabalmente a sua falência tem um custo muito alto.

Carlos J F Sampaio, Esposende

Sugerir correcção
Comentar