Inéditos de Maria Judite de Carvalho

Poemas para crianças encontrados por Inês Fraga, neta da escritora que assinava no Diário de Lisboa como Emília Bravo.

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Desenho que ilustra o poema “Os óculos” Cátia Vidinhas
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Desenho que ilustra os poemas “Fim de férias” e “Domingo de Inverno” Cátia Vidinhas
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Desenho que ilustra o poema “Noite” Cátia Vidinhas
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Capa do livro “Felizmente as Árvores São Grandes”, editado pela Minotauro Cátia Vidinhas

O título do livro que reúne poemas desta voz importante da literatura do século XX é uma frase retirada do texto Mais ou menos. “Se ele fosse tão pequenino/ que aquele arbusto/ lhe parecesse uma grande árvore verde,// ou se ele fosse tão alto/ que aquela grande árvore verde/ lhe parecesse um arbusto// as coisas não estavam nada certas.// Felizmente as árvores são grandes,/ as pessoas médias,/ os arbustos pequenos.// E tudo é sempre assim,/ mais ou menos.”

Nele se percebe a habilidade no uso das palavras e a contemplação que caracteriza a obra de Maria Judite de Carvalho. Outros poemas, como A terra, O elevador, Fim de férias ou A varanda transmitem a sua capacidade de observação e de imaginar para lá do que é visível. Afinal, é isso que se espera da poesia.

Também se encontra o pôr em causa ideias feitas (O astronauta), o desejo por um mundo melhor (Sabes lá, menina) e as diferentes formas de o encarar (Os óculos). “Ponho óculos azuis/ e todos têm asas/ e voam, cantando,/ por cima das casas.// Ponho óculos doirados/ e o mundo é um tesouro/ onde os corações/ são de puro ouro.// Ponho os óculos verdes/ de seguir em frente/ e logo a esperança/ faz tudo diferente.// Mas atiro os óculos/ para longe de mim.// E há o bem e o mal/ e o assim-assim.”

Cátia Vidinhas ilustra os textos com delicadeza e imaginação, num registo coerente, apesar dos temas diversos. Há elementos que se repetem nas imagens e que são usados nas guardas, produzindo um efeito bonito.

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Imagem que ilustra o poema “Dicionário” Cátia Vidinhas

É também aqui, nas guardas do livro, que podemos ver algumas frases manuscritas dos poemas, digitalizadas a partir de um caderno que Inês Fraga, neta da escritora, encontrou e que deu origem à obra.

No momento em que publicamos este livro, faz quase cem anos que a minha avó nasceu. Cem anos são um século. Que melhor maneira haverá de celebrar esse nascimento do que publicando estas palavras que ela escreveu para crianças, que ela escreveu mesmo para ti, que hoje as lês?”, conta a neta numa breve apresentação do livro, logo nas primeiras páginas.

No final, uma curta biografia da autora de Tanta Gente, Mariana e Armários Vazios dá-nos conta de que nasceu em Setembro de 1921, em Lisboa, “mas esses tempos de menina não foram de uma felicidade inteira”, pois cedo perdeu os pais e o irmão.

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Guardas do livro, com elementos gráficos que se repetem no seu interior e com excertos dos manuscritos digitalizados Cátia Vidinhas

“Muito nova encontrou refúgio na escrita e nos animais, nomeadamente na sua cadelinha Genica e, mais tarde, no imponente e felpudo gato Fritz. Foi uma escritora discreta, embora das mais importantes da literatura nacional do século XX.”

Trabalhou nos jornais Diário de Lisboa, Diário Popular, Diário de Notícias e O Jornal e a sua obra foi distinguida com o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, o Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários, o Prémio P.E.N. Clube Português de Novelística e o Prémio Vergílio Ferreira.

A escritora Agustina Bessa-Luís chamou-lhe “flor discreta”. Uma descrição feliz.

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