Não foi preciso muito Moreirense para travar o Benfica

O título é cada vez mais uma quimera para o Benfica e mesmo o apuramento directo para Liga dos Campeões, por via do segundo lugar, é um objectivo a ganhar contornos de utopia. Têm agora a palavra o FC Porto e o Sporting.

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Reuters/PEDRO NUNES

O Benfica pode acabar o fim-de-semana a nove pontos do FC Porto e a seis do Sporting. Tal equivale a dizer que o título é cada vez mais uma quimera e que mesmo o apuramento directo para Liga dos Campeões, por via do segundo lugar, é um objectivo a ganhar contornos de utopia. Tudo isto sai do rescaldo de mais um tropeção dos “encarnados” na I Liga, neste sábado, com o empate (1-1) em casa frente ao Moreirense. E a equipa saiu do relvado brindada com um tremendo coro de assobios por parte dos adeptos.

Já os minhotos saem provisoriamente da zona perigosa da tabela, mas, mais do que isso, ganham um bálsamo de confiança: desde a entrada de Ricardo Sá Pinto para o comando técnico somam um triunfo frente ao Vizela e tiram, agora, pontos o Benfica, algo que já fazem há três temporadas consecutivas.

Este jogo acaba por ficar marcado por um Benfica em contradição táctica e técnica. No pós-Jesus, o sistema é mesmo o 4x4x2 – e daí não vem nada que já não se soubesse –, mas esta partida trouxe a ausência de dois alas puros.

Nélson Veríssimo chamou Paulo Bernardo à equipa titular (uma estreia) e o jovem médio actuou numa posição híbrida entre o corredor esquerdo e a zona central, em permanente permuta com João Mário, deixando o corredor livre para Grimaldo.

Em tese, Veríssimo dotou a equipa de um futebol mais combinativo, tendo Weigl, João Mário e Paulo Bernardo. Mas a escolha dos avançados constituiu um paradoxo, já que os mais combinativos Yaremchuk e até Gonçalo Ramos deram lugar a Darwin e Seferovic, jogadores que gostam de explorar o espaço – tal como Rafa, o ala-direito.

Desta aparente dicotomia saiu um futebol algo confuso, com os dois avançados a não terem capacidade para participarem no futebol que os criativos estavam a pedir – e estes tiveram várias vezes de circular por trás, pela falta de apoio entre linhas por parte dos atacantes.

Com o Moreirense bastante recuado e desinteressado da bola (é a segunda equipa da I Liga com menos posse por jogo), o Benfica acabou por parecer desconfortável: os avançados não tinham profundidade para explorarem e os médios não tinham avançados para combinarem. Prova disso era mesmo um dado do GoalPoint que apontava que aos 55’ o jogador com mais passes aproximativos do Benfica era Weigl com apenas… cinco.

Os “encarnados” estiveram mesmo mais de meia hora de jogo com apenas um remate somado – uma bola de Rafa à trave – e os lances criados foram sempre mais pela presença massiva na áerea do Moreirense do que pelo engenho das jogadas criadas.

João Mário, aos 36’, após uma bola perdida na área, e Morato, aos 42’, num canto, conseguiram esses lances de perigo pela muita presença ofensiva de uma equipa sempre focada em cruzamentos (ao intervalo eram três eficazes em… 19 tentados). E importa destacar que o Moreirense é a equipa mais forte da I Liga em duelos aéreos, algo que dá ainda menos nexo à opção do Benfica.

Onze parágrafos depois ainda não se falou muito do Moreirense e o motivo é que há pouco a dizer. Os minhotos, que marcaram um golo apesar de terem apenas 0,3 de rácio de golos esperados, estiveram em bloco baixo e foram pouco ousados ofensivamente, apesar de um trio de disparos de fora da área – e até nem é das equipas da I Liga mais adeptas dessa solução.

O intervalo nada mudou na partida. O Benfica tinha muita gente na área adversária e era “convidado” a fazer a bola lá chegar rapidamente. Aos 47’, Paulo Bernardo optou pela via individual, que a colectiva não estava a sair, e rematou por cima, em excelente posição, depois de “deitar” Steven Vitória com um drible. E ainda houve pouco depois um cabeceamento de Seferovic ao lado, após um canto.

Aos 62’, tudo piorou para o Benfica. É certo que o Moreirense nem tinha muita presença ofensiva – e mesmo isto é eufemismo –, mas foi a suficiente para forçarem Otamendi e Gilberto a errarem num lance em que o argentino chutou contra o brasileiro, promovendo um autogolo.

Os “encarnados” responderam pouco depois, com um golo de Darwin num lance caricato no qual dois jogadores do Moreirense replicaram o que tinham feito Otamendi e Gilberto. Desta vez não deu autogolo, mas deixou Darwin na cara do golo.

O Benfica chegou, depois do golo, a um nível bastante mais competente. O possível desgaste nos jogadores do Moreirense – o permanente atraso a chegar ao portador da bola eram bom medidor disso – começou a abrir mais espaços e o bloco até então bastante compacto apresentava, por esta altura, alguns buracos.

A velocidade de Diogo Gonçalves e Lázaro, entretanto chamados ao jogo, foram úteis para aproveitar esses espaços, até pela forma surpreendente como o Moreirense subiu a defesa na fase em que estava menos confortável – o bloco não era tão baixo como noutras alturas do jogo.

Essa subida, apesar do risco defensivo que trazia, permitiu ao Moreirense esticar-se um pouco mais no relvado e ter alguns minutos de permanência com bola no meio-campo do Benfica. Isso permitia deixar rolar o relógio e era essa a prioridade.

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