Caldeirão da ilha do Corvo está a sofrer processo de erosão “normal”

Há cerca de 20 anos, começaram também a abrir-se fissuras por onde a água das lagoas do Caldeirão está a perder-se.

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Caldeirão do Corvo Santiago Giralt

O Caldeirão da ilha do Corvo, nos Açores, está a ser alvo de um processo de erosão e nada pode ser feito, porque se trata de um fenómeno “normal”, segundo um especialista ouvido pela agência Lusa.

O vulcanólogo Nicolau Wallenstein - que chefiou uma equipa que procedeu a um estudo, em 2004, na montanha vulcânica Monte Gordo, denominada por Caldeirão do Corvo, a pedido da Direcção Regional do Ambiente - afirma que o monumento sofre de um “processo de erosão natural e bastante avançado devido aos ventos dominantes dos Açores”.

Este é o último estudo conhecido efectuado no Caldeirão do Corvo, segundo vários especialistas da Universidade dos Açores confirmaram à Lusa, tendo Nicolau Wallenstein sido acompanhado pelo investigador da Universidade de Coimbra José Manuel Azevedo, a par de outra colaboradora da academia açoriana.

O especialista da Universidade dos Açores, que já esteve no local após esta data, a título pessoal, refere que “a parede da caldeira, a oeste e noroeste, está a sofrer um processo de erosão no seu interior e exterior”, devendo este ser atendido como “um processo geológico normal e muito demorado”.

Questionado sobre se é possível travar este processo de erosão, Nicolau Wallenstein refere que “há que deixar a natureza fazer o seu percurso, que vai sempre transformando os habitats, os ambientes geológicos”.

Exemplifica que, se se olhar ao formato da ilha do Corvo, esta “tem vindo a ser reduzida pelo facto de não haver actividade vulcânica”.

Nicolau Wallenstein considera que o que se está a passar no Caldeirão do Corvo - onde os populares referem que a caldeira está a perder água - é um “desmonte da arriba Noroeste da ilha do Corvo, como nas outras ilhas dos Açores”.

“Quando não há actividade vulcânica e a formação de novo material, naturalmente que a erosão é o processo dominante que vai desgastando. Trata-se de um processo de recuo de arriba normal, em que a base vai sendo afectada pelo mar e, por falta de sustentação das arribas, elas vão colapsando em direcção ao mar”, afirma o especialista.

Na altura em que a equipa que chefiou desenvolveu trabalho de campo no Caldeirão do Corvo, Nicolau Wallenstein não se apercebeu da perda de água da caldeira, mas sim de um “processo de eutrofização”, havendo sim um “preenchimento da massa água por vegetação dar margens, principalmente da virada a sul”. Trata-se de um fenómeno “que se vinha a prolongar ao longo de algumas décadas”.

O especialista explica que se deixou de praticar pastoreio dentro do Caldeirão, o que evitava a deposição de vegetação na massa de água. “Com o final desta prática tão intensa, por um processo natural numa depressão daquele tipo, é natural que a vegetação que se vai formando nas arribas facilite o processo de infiltração da água e menos escorrência superficial”, explica.

“Ao mesmo tempo, o facto de a vegetação rolar para as margens da massa de água superficial vai fazendo com que se vão criando condições para a criação de nova vegetação que se vai instalando nas margens e dando origem a um processo de eutrofização”, nora o investigador.

Em 2017, o então director do Parque Natural do Corvo, Fernando Ferreira, disse à agência Lusa que “a caldeira do vulcão apresenta flancos de declives muito agudos, principalmente a Noroeste e a Oeste, resultantes da acção intensa de processos erosivos, quer marinhos, quer dos ventos”.

A caldeira do Corvo tem um perímetro de 2,3 quilómetros e uma profundidade de 320 metros, sendo o seu interior ocupado por vários cones, que os populares afirmam representar cada uma das nove ilhas dos Açores, bem como por salpicos de lava.

A par da erosão marinha, a ilha do Corvo enfrenta ventos de noroeste e oeste que “acabam por afectar as vertentes do vulcão”, agora “parcialmente perturbadas no flanco sul”.

O responsável referiu que este é um processo “muito lento” de fustigação, que tem ocorrido ao longo de centenas de milhares de anos e, há cerca de 20 anos, começou a provocar a abertura de fissuras por onde a água das lagoas do Caldeirão “está a perder-se”. Fernando Ferreira adiantou que, ao longo de centenas de milhares de anos, a ilha do Corvo, que teria 28 quilómetros quadrados, com base em estimativas baseadas em estudos geológicos, apresenta 17 quilómetros na actualidade.

O Caldeirão do Corvo é muito procurado pelo turismo devido à sua beleza natural.

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