O Rio que os separa

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António Costa e Rui Rio: condenados a entenderem-se? EPA/PEDRO PINA RTP HANDOUT

Foi um debate duro, como tinha que ser. Rui Rio e António Costa deram tudo por tudo para mostrar o que os separa – e é muito -, mas acabaram por confessar que estão condenados a entenderem-se.

O “tabu” de Costa caiu logo ao início e foi Rio quem o conseguiu, quando provocou o adversário com um cenário “perigoso”: se o PS ganhar sem maioria absoluta, Costa bateria com a porta e deixaria Pedro Nuno Santos a fazer, já não uma “geringonça”, mas uma coligação à esquerda.

De uma penada, Rio arrancou a Costa duas promessas nesse cenário: nunca voltar as costas aos portugueses e governar à Guterres. Ou seja, com o apoio do PSD. Mas a questão tinha um efeito boomerang que Rio reconheceu nas declarações após o debate: se o PSD ganhar e Costa cumprir a promessa de sair de cena, poderá contar com o apoio dos socialistas liderados por Pedro Nuno Santos?

Rio espera do PS a mesma “oposição construtiva” que diz ter sido desde que é líder do PSD, mas as suas marcas à direita, que António Costa se esforçou por demonstrar, tornarão difícil qualquer apoio do PS. Ou seja, Costa pode contar com Rio, mas Rio não pode contar com um reflexo seu no PS.

Na discussão sobre políticas públicas - da saúde à justiça, dos impostos à TAP -, Costa esteve quase sempre ao ataque, tentando mostrar como o PSD protege as empresas e despreza as pessoas, enquanto usava como escudo contra as investidas do adversário o grosso dossier do Orçamento do Estado para 2022 que trouxe para o debate, como uma espécie de pronto-a-vestir com saldos para as classes médias e baixas.

Rui Rui contra-atacou com a sustentabilidade do crescimento económico para garantir melhores salários e impostos mais baixos no futuro e questionando sobre como se podem conseguir resultados diferentes com políticas iguais. E foi ele quem mais recorreu ao soundbite, como quando disse que “esse OE2022 é a segunda maior descoberta depois do caminho marítimo para a Índia”.

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