PS vs. BE: Costa ganhou, Catarina perdeu

Costa recuou a 2020: “O Bloco rompeu com o PS, com o PCP e o PEV. Não foi uma atitude responsável.” Catarina acabou por não justificar as razões do primeiro divórcio entre Bloco e PS em 2020 e decidiu apenas lembrar que tinha sido o BE – ao contrário do PCP – a viabilizar os estados de emergência e o Orçamento Suplementar de 2020.

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António Costa e Catarina Martins RTP
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António Costa não apareceu a Catarina Martins com a mesma fúria com que enfrentou (e pôs KO) Jerónimo de Sousa. Mas se Catarina Martins não saiu do debate em KO técnico, na RTP diminuiu a luz da sua boa estrela dos frente-a-frente pré-eleitorais. Este adversário vinha para matar, embora mais educadamente do que o tinha feito com o outro ex-parceiro, e Catarina esteve à defesa quando Costa acusou o Bloco de ter já chumbado o Orçamento de 2021. Sabendo que há mais portas giratórias entre o eleitorado do PS e o do Bloco do que transferência de votos em legislativas entre PS e PCP, Costa recuou dois anos: “Em Outubro de 2020, o Bloco rompeu com o PS, com o PCP e o PEV. Não foi uma atitude responsável”. Catarina acabou por não justificar as razões do primeiro divórcio entre Bloco e PS em 2020 e decidiu apenas lembrar que tinha sido o Bloco – ao contrário do PCP – a viabilizar os estados de emergência e o Orçamento Suplementar de 2020.

António Costa defendeu que a maior razão para a ruptura do BE foi a recusa do Governo acabar com o factor da sustentabilidade da Segurança Social, argumentando que custaria 480 milhões de euros por ano, número que Catarina Martins desmentiu. Mas, numa espécie de aproveitamento do que foi o debate entre Rui Rio e Catarina Martins, disse: “Se minarmos a confiança no futuro da Segurança Social quem ganha é Rui Rio e o PSD”. Relativamente ao SNS, até deu a ideia de que PS e Bloco não estariam muito longe – o que não parece ser exactamente o caso.

Costa aproveitou o debate com a líder do Bloco para falar ao eleitorado do centro. Atacou o facto de no programa do BE estar a renacionalização – “como agora o Bloco é em versão light fala em desprivatizar” – da ANA, dos CTT, da EDP, da GALP e da REN, argumentando que “agravaria a dívida pública em 14,5% do PIB” em nome de “uma bravata ideológica”. Catarina Martins apenas disse que “talvez [António Costa] ache que é normal que seja o Estado chinês a mandar na electricidade em Portugal”, com os CTT “a funcionar cada vez pior”. Mas tentou afastar o assunto, com a justificação de que não foram estas questões que levaram ao corte entre os dois partidos.

A líder bloquista acusou várias vezes o PS de “querer a maioria absoluta, que não vai ter”. Costa confirmou que se não tiver maioria absoluta continuará a ser primeiro-ministro: “Eu não sou o prof. Cavaco. Não faço chantagem”. A questão é que, queimadas as pontes à esquerda, sem maioria absoluta o futuro parece cada vez mais ser um “bloco central 2.0” – ou 2022, o ano da graça em que acontecem estas inesperadas eleições.

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