Regiões de Coimbra e Leiria juntam-se contra o centralismo das áreas metropolitanas

Na primeira cimeira entre as duas comunidades intermunicipais, autarcas elaboraram um caderno de encargos com 50 pontos. De fora ficou o tema fracturante: a localização de um aeroporto na Região Centro.

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Os autarcas adiaram o debate sobre um aeroporto na região Centro NUNO FERREIRA SANTOS

Coimbra e Leiria querem colocar os seus problemas na agenda que traça o caminho para as legislativas de 30 de Janeiro. Nesta terça-feira, em Ansião (distrito de Leiria), naquela que foi a primeira cimeira entre as duas regiões do centro do país, os autarcas elaboraram um caderno de encargos com 50 pontos para apresentarem ao governo e aos candidatos ao parlamento.

“Num momento em que é fundamental uma estratégia de recuperação económica e social do país, esta região reclama que não se continue a apostar no centralismo de Lisboa e nas duas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto e que olhe para o território todo do país como uma oportunidade de coesão e desenvolvimento harmonioso”, disse o presidente da Comunidade Intermunicipal de Leiria (CIM), Gonçalo Lopes, em conferência de imprensa.

Num comunicado conjunto, as CIM de Leiria e Coimbra exigem “níveis de financiamento adequados para os programas e as políticas de execução dos fundos europeus e de investimento do Estado”, de forma a “mitigar os efeitos perversos da excessiva afectação de recursos às grandes áreas metropolitanas do Plano de Recuperação e Resiliência”.

No texto, as regiões lembram que são um território “com elevado desempenho em vários domínios”, mas notam que enfrentam “limitações fundamentais que devem conhecer urgente resolução”. Reclamam também “decisões de investimento que suportem a transformação estrutural que há vários anos é reclamada pelos vários actores políticos e pelos diversos sectores da sociedade”

Gonçalo Lopes, que é também presidente da Câmara de Leiria, destacou a saúde como “um dos temas mais importantes” em debate. No topo da lista de reivindicações dos autarcas está a aposta na rede de centros de saúde da região, referiu o autarca, mas também a requalificação dos Centros Hospitalares de Coimbra e Leiria. Aqui cabem também velhas lutas, como a nova maternidade de Coimbra ou a valorização do Hospital dos Covões, na mesma cidade. A saúde é “fundamental” para que estes territórios sejam capazes de reagir a futuras crises como a actual pandemia, lembrou.

Aeroporto, discussão adiada

De fora da agenda deste encontro ficou o tema quente e isso foi intencional, explicou o presidente da CIM de Coimbra, Emílio Torrão. A maior fractura entre estas duas comunidades intermunicipais é a localização de um futuro aeroporto internacional da Região Centro. Leiria tem defendido que a Base Aérea de Monte Real (BA5) possa abrir à aviação civil e Coimbra estava associada à promessa do ex-autarca socialista, Manuel Machado, que fez campanha em 2017 com a localização de um aeroporto nas redondezas da cidade.

Sem que os autarcas da Região Centro tenham chegado a acordo sobre a localização, a ideia nunca teve respaldo governamental. A ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, chegou a apontar a disputa como um “mau exemplo”.

O presidente da CIM de Coimbra contou que, na primeira reunião que teve com o congénere de Leiria, foi acordado que esse não seria o primeiro tema de um encontro entre as duas comunidades. “É um tema óbvio”, reconhece, para acrescentar que é “suficientemente importante e complexo” para merecer uma cimeira por si. Assim, esse ponto ficou já inscrito na agenda do próximo encontro, que ainda não tem data marcada, mas que deverá acontecer num concelho da Região de Coimbra, no próximo mês de Fevereiro. Nessa reunião serão também discutidos temas como a descentralização de competências e a rede de acessibilidades e economia circular.

Mas na cimeira desta terça-feira houve espaço para falar de outro tipo de transportes e mobilidade e reivindicar intervenções (algumas já anunciadas ou em execução) como a electrificação de vários troços da Linha do Oeste, a requalificação do IP3 entre Coimbra e Viseu ou a inclusão de Coimbra e Leiria no traçado da linha de via dupla de alta velocidade para passageiros entre Lisboa e Porto.

Os autarcas pedem também recursos para intervenções estruturantes em áreas como o ensino superior, ambiente, cultura e desporto, coesão territorial e economia social, política de cidades, competitividade e inovação e nas florestas.

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