Rivais superados pelo melhor FC Porto do século

Os números mostram que talvez a diferença na tabela não se explique pela falta de engenho de Sporting e Benfica, mas pela força e regularidade de uma das melhores versões de sempre do FC Porto.

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LUSA/RODRIGO ANTUNES

Terminada a primeira volta da I Liga, é fácil apontar que um Benfica errático ofereceu ao FC Porto uma liderança tranquila, com sete pontos de diferença à 17.ª jornada, e ainda um Sporting pelo meio com pontos perdidos no último fôlego. Mas talvez esta distância não se explique propriamente pela falta de engenho dos lisboetas na primeira metade da temporada, e antes pela força do melhor FC Porto deste século.

É que os “encarnados” fizeram tantos ou mais pontos do que na maioria das últimas temporadas. Desde 2014-15, quando o campeonato voltou a ter 18 equipas, o Benfica só três vezes fez melhor do que os 40 pontos somados nesta época.

Quer isto dizer que a diferença actual para o líder (sete pontos) não decorrerá exclusivamente do desempenho das “águias” — que somaram pouco menos do que os pontos que, em média, costumam somar (41) —, mas, sobretudo, na força de um FC Porto imbatível até agora e que, pela primeira vez neste século, chegou aos 47 pontos — já tinha acabado três vezes sem derrotas, mas com mais pontos perdidos em empates.

Como consequência, nunca tinha havido uma primeira volta do campeonato tão forte como esta para Sérgio Conceição. O treinador do FC Porto cumpriu a 17.ª jornada da I Liga com 47 pontos e escreveu, portanto, história em nome próprio. Com este registo, travou ainda a queda para o abismo começada desde que chegou ao Dragão — tinha conseguido 45, 43, 41 e 39 pontos nas primeiras voltas —, quebrando, agora, a descida época após época.

Conceição esteve, de resto, muito próximo de alcançar a melhor primeira volta de sempre do clube, acabando por igualar “apenas” os 47 pontos somados em 1996-97, com António Oliveira como treinador e o próprio Sérgio no plantel.

Estas trivialidades estatísticas servem para atestar a regularidade de uns “dragões” bastante menos erráticos do que em temporadas anteriores. Para isso, muito contribuiu a “folha limpa” frente aos três maiores rivais: venceram Benfica e Sp. Braga e empataram com o Sporting e esse registo, com sete pontos somados, é o melhor desde que Sérgio Conceição chegou ao Dragão.

Sendo certo que o desporto não se faz de “quases”, importa destacar que entre FC Porto e Benfica há um Sporting que também não pode “chicotear-se” a si próprio pela diferença actual, já que os “leões” até estiveram muito perto de conseguirem a melhor primeira volta da história.

Na última jornada, o clube estava em linha para chegar aos 47 pontos, algo inédito nos campeonatos do Sporting com 18 equipas. A derrota com o Santa Clara deixou, porém, a equipa de Rúben Amorim nos 44 pontos, abaixo até dos 45 somados em 2020-21, ano do título nacional.

Em suma, é quase unânime que FC Porto e Sporting estão a um nível muito alto, o Benfica está um pouco abaixo do que poderia estar e o Sp. Braga está bastante mais volátil do que gostaria, a 15 pontos do líder.

Muito Gil, pouco Famalicão

Depois, vêm as boas surpresas. Gil Vicente, Estoril e Portimonense não seriam, no início da temporada, candidatos óbvios à luta europeia. Os minhotos de Ricardo Soares, os lisboetas de Bruno Pinheiro e os algarvios de Paulo Sérgio têm dado razão a quem aponta que, mesmo nas equipas menos apetrechadas, o futebol de posse e o jogo apoiado e combinativo são os melhores para chegar ao sucesso.

As três equipas estão no top-8 das que mais posse de bola têm por jogo e das que mais passes curtos fazem por partida. Duas delas estão ainda nesse lote no capítulo de mais tempo passado no terço de campo adversário — a excepção é o Portimonense, cujo valor fica enviesado pela postura extra-defensiva que assume nos duelos frente aos “grandes” (e a verdade é que a estratégia teve sucesso frente ao Benfica).

No polo oposto, é difícil fugir à temporada penosa de um Famalicão apontado aos lugares europeus, às épocas assim-assim de um Santa Clara geralmente mais confortável na tabela e a um Vitória de Guimarães em oitavo lugar.

No caso dos minhotos, a avaliação é difícil de fazer a vários níveis. No capítulo pontual, é certo que estão a apenas três pontos do quinto lugar — a “tarifa” mínima pedida pelos exigentes vitorianos —, mas estão já a nove do grande rival Sp. Braga, algo certamente difícil de “engolir”.

No plano futebolístico, a equipa de Pepa tem alternado entre jogos de grande qualidade e supremacia (nos quais apenas falha a finalização) e outras partidas bastante penosas, como a última, na qual a derrota por 3-2 até foi um mal menor, tal foi a supremacia do Gil Vicente.

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