PSD vs. IL: a direita “prudente” e a direita “com pressa” que querem sacudir de cima o socialismo

Sorrisos e um diagnóstico comum. Rio e Cotrim Figueiredo caminham na mesma direcção. Um tem mais pressa do que o outro mas os dois têm vontade de se ajudarem mutuamente.

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Rui Rio esteve no frente-a-frente com Cotrim Figueiredo na SIC LUSA/PEDRO PINA/RTP

A Iniciativa Liberal recusou o libelo de “direita aventureira” que Rui Rio lhe atribuiu e o PSD recusou a acusação de falta de “rasgo” e de “coragem” que João Cotrim de Figueiredo lhe lançou. O debate entre os dois partidos, emitido esta segunda-feira na SIC, deixou claro que estão juntos contra o peso do Estado e o socialismo mas em graus diferentes. Mas essa diferença não é nada que os impeça de dar as mãos depois das eleições legislativas antecipadas de dia 30, como os dois, aliás, reconheceram logo na primeira ronda do debate.

"Há muitos pontos de convergência mas também de divergência. Mas neste momento temos tanto Estado e socialismo em cima de nós que não será difícil convergir”, afirmou, de forma clara, o líder do PSD, Rui Rio. Cotrim Figueiredo sorriu, respondeu-lhe que a diferença é de ritmo: “Temos um diferente sentido de urgência e de pressa perante este diagnóstico”.

A partir daí, as diferenças e aproximações ficaram claras. Querem descida de impostos, mas a IL propõe um choque fiscal, são a favor da privatização da TAP, mas a IL acrescenta-lhe a CGD e a RTP. Na Saúde e na Educação, Rio deixou bem claro que não quer retirar o papel central do Estado na melhoria destes serviços públicos perante uma IL que está disposta a entregar ou a concessionar tudo aos privados.

Cotrim Figueiredo voltou a assumir que Rio daria um bom primeiro-ministro, se a IL ali estiver para o apoiar e influenciar e, desta vez, foi o social-democrata a sorrir. Rio, contudo, recusou dar primazia à IL em detrimento do tradicional parceiro, o CDS, que nestas eleições se debate com algumas dificuldades, a atentar pelo que dizem as sondagens.

Em recente entrevista ao PÚBLICO/Renascença, João Cotrim Figueiredo admitia que estas eleições antecipadas não eram nada propícias ao calendário de crescimento do partido. “Pessoas com capacidade política, intelectual e com espinha dorsal não vão passar de um partido para outro em dois meses. Ao ocorrerem dois anos mais cedo, estas legislativas não permitiram fazer algum trabalho político de atracção de pessoas que podiam estar na nossa órbita noutro timing”, confessou, referindo-se aos desertores do CDS, ou seja, aos desiludidos com o actual presidente.

Um eventual acordo entre PSD e IL na Assembleia da República não seria novidade. Estes partidos já se entenderam nos Açores, onde o apoio parlamentar da IL, juntamente com o do CDS e Chega, permitiu ao PSD formar governo ao fim de 20 anos, destronando assim a maioria relativa do PS. Mas percebe-se que a IL só quer entendimentos pós-eleitorais. Foi o que aconteceu nos Açores e veja-se o caso de Lisboa, onde Carlos Moedas quis fazer uma frente única de direita e levou uma nega da IL.

A Iniciativa Liberal nasceu em 2017 e foi a votos pela primeira vez nas eleições legislativas de 2019, tendo eleito um deputado pelo círculo de Lisboa. Nas eleições seguintes, presidenciais e autárquicas, verificou-se que a implantação da IL está concentrada nos grandes centros urbanos: Porto, Lisboa e litoral do país.

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