Catarina vs. Inês. Uma “abriu a porta à direita”, a outra pode governar com a direita

Num debate em que Inês Sousa Real e Catarina Martins até concordam em muitos aspectos – a emergência climática como questão fundamental – o problema de “abrir a porta à direita” versus “governar com a direita” foi a marca distintiva.

Foto
Esta segunda-feira teve lugar entre as líderes do BE e do PAN Francisco Romão Pereira/RTP
Reserve as quintas-feiras para ler a newsletter de Ana Sá Lopes em que a política vai a despacho.

Se das eleições de 30 de Janeiro resultar um governo de direita, o PAN não tem dúvidas de que o Bloco de Esquerda é responsável. Pior: Inês Sousa Real acusou, no debate desta segunda-feira na RTP3, Catarina Martins de “estender a passadeira vermelha para o crescimento de forças políticas antidemocráticas”. À acusação, que é o calcanhar de Aquiles do Bloco de Esquerda nestas eleições, de que o BE está a “abrir a porta à direita”, a líder bloquista justificou-se com o facto do PS não ter querido “ceder em nada": “Quis eleições, maioria absoluta, o ‘quero, posso e mando’”.

Mas depois Catarina Martins confrontou Inês Sousa Real com o calcanhar de Aquiles do PAN, considerando ser “um pouco estranho” as preocupações de Sousa Real sobre a extrema-direita quando “abre a possibilidade de apoiar o PSD quando sabe que o PSD aceita as posições do Chega nos Açores”. Acabou em match nulo. Inês Sousa Real insistiu que o PAN é um partido “progressista”, “que não se identifica com a esquerda nem com a direita” e que “jamais fará parte de um governo que não respeite os direitos humanos basilares”.

Num debate em que Inês Sousa Real e Catarina Martins até concordam em muitos aspectos – a emergência climática como questão fundamental – o problema de “abrir a porta à direita” versus “governar com a direita” foi a marca distintiva. Catarina Martins acabou o frente-a-frente na RTP a dizer que “não se pode prometer laranjas e oferecer limões”, que o Bloco “estará para a construção de soluções”, atacando mais uma vez a ideia da líder do PAN de que pode fazer passar o seu programa “com a direita”. Inês Sousa Real fechou o debate, insistindo na frase com que abriu: “Não abrissem a porta à direita”.

Catarina Martins pôs Inês Sousa Real em dificuldades para explicar a proposta do PAN – que também o Livre perfilha – do Rendimento Básico Incondicional (RBI), dizendo que a sua adversária não consegue explicar bem e que até parece “pedir um bocado desculpa pela proposta”: “Como é que vai pagar Rendimento Básico Incondicional a 10,5 milhões de habitantes”, perguntou a líder do Bloco.

Inês Sousa Real disse que “não pedia desculpa pela proposta” e disse que o RBI podia ser “essencial para as vítimas de violência doméstica” ou “pessoas que estão a fazer trabalhos de que não gostam”. Catarina Martins disse que “não era uma proposta consistente” e que corria o risco de gastar “todo o Orçamento do Estado”. Foi a parte em que Inês Sousa Real surgiu mais frágil, num debate razoavelmente equilibrado entre as duas únicas mulheres que são líderes de partidos.

Sugerir correcção
Ler 6 comentários