Greve dos taxistas angolanos marcada por actos de vandalismo e ataques a jornalistas em Luanda

Jornalistas da TV Zimbo e TV Palanca denunciam “tentativa de linchamento”. Sede do MPLA em Benfica, nos arredores da capital, foi incendiada.

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Taxistas angolanos fizeram várias exigências ao Governo AMPE ROGÉRIO/LUSA

O início da greve dos taxistas angolanos nesta segunda-feira está a ser marcado por actos de vandalismo em diferentes pontos da cidade de Luanda e denúncias de “tentativas de linchamento” de jornalistas que cobriam os desacatos. As autoridades denunciam um aproveitamento do protesto por pessoas que querem apenas causar distúrbios.

Há relatos de sobrelotação de paragens, de estradas cortadas e de um incêndio deflagrado na sede do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) na zona de Benfica, nos arredores da capital.

Em declarações à Lusa, Telmo Gama, da TV Zimbo, explicou que se encontrava com um colega, repórter de imagem, nessa zona da cidade, para acompanhar os tumultos na representação do MPLA, quando foi atacado.

“Quando nos aproximámos do local para filmar, alguns indivíduos tentaram retirar-nos à força, mas um outro grupo solidarizou-se e tentou escoltar-nos até à esquadra”, contou o jornalista. “Nesse momento, apercebi-me de que algumas gotas de líquido que me tinham atingido e que pensei que eram de água eram combustível e tentei sair imediatamente no local”, acrescentou.

Em Luanda, são frequentes os casos de criminosos ou suspeitos de crimes apanhados pela população que são queimados vivos.

O jornalista da Zimbo adiantou que não conseguiu identificar os agressores, mas indicou que “não são taxistas”, informação que lhe foi confirmada também pela polícia. “Presume-se um aproveitamento da situação para praticar actos de vandalismo e destruição de bens públicos”, sublinhou, dizendo que “as pessoas estavam com os nervos à flor da pele”.

Na esquadra para onde se dirigiu a equipa da TV Zimbo encontravam-se já colegas da Palanca TV que foram também vítimas de ameaças e tentativa de linchamento. Um dos jornalistas que integravam a equipa de quatro profissionais do canal angolano descreveu ao Correio da Kianda que foram “verbal e fisicamente agredidos e quase queimados”, acrescentando que terá sido graças à intervenção policial que o pior não aconteceu.

O secretário provincial do MPLA em Luanda, Bento Bento, diz que a vandalização da infra-estrutura do partido em Benfica foi uma acção premeditada. “O que é que uma greve de taxistas tem a ver com as instalações políticas? Trata-se de um plano inteligentemente elaborado. Aliás, desde algum tempo temos vindo a denunciar que há intenções de indivíduos que pretendiam atacar comités do MPLA e hoje está aí a prova”, afirmou à imprensa.

Convocada pela Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA) e pela Associação dos Taxistas de Angola e Associação dos Taxistas de Luanda, a greve tem como reivindicações principais a oposição à redução do número de taxistas e de passageiros, no âmbito das medidas de combate à covid-19; a inclusão dos taxistas na Segurança Social e o seu acesso à carteira profissional; e uma resposta à “degradação” da relação entre polícias e taxistas, devido ao “excesso de zelo” dos primeiros em relação aos segundos.

“Foram feitas várias promessas e das promessas feitas absolutamente nenhuma” foi cumprida, lamentou Francisco Paciente, presidente da ANATA, acusando as autoridades políticas de “mentirem à opinião pública”, ao dizerem que têm estado em constante diálogo com as associações de taxistas.

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