Câmara de Coimbra suspende uma linha da Ecovia e promete reavaliar o sistema

Sistema de park & ride que foi inaugurado há menos de meio ano transporta nove pessoas por dia. Há potencial de crescimento, mas sistema tem de ser reformulado.

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Sistema vai ter de ser reformulado Nelson Garrido

A Ecovia, um sistema de park & ride que a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) inaugurou em Junho de 2021, tem defeitos de raiz e terá que ser reformulada. Os problemas começam nos circuitos, passam pela localização dos parques e vão até aos próprios preçários. Para já, anunciou a vereadora com o pelouro da mobilidade, Ana Bastos, na reunião de executivo camarário que teve lugar esta segunda-feira, a autarquia vai suspender a linha roxa, que liga o Vale das Flores aos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), numa decisão que “será reavaliada, provavelmente, dentro de um ano”.

Ana Bastos sublinhou que tanto a linha roxa como a totalidade do sistema (que é composto também pelas linhas verde e vermelha) são “extremamente deficitários”. E apresentou dados: entre 1 de Junho e Novembro de 2021, a Ecovia transportou 1104 passageiros. Ou seja, uma média diária de nove passageiros no total do sistema e de três por cada linha.

As linhas verde e vermelha serão mantidas porque têm potencial de crescimento, referiu. A verde liga o Parque Verde à Alta Universitária e a Vermelha liga a Casa do Sal aos HUC, sendo que os dois pontos de destino apresentam situações de estacionamento selvagem. No caso da alta, a autarquia pretende condicionar o estacionamento. “Isso vai obrigar as pessoas a reverem os seus padrões de mobilidade”, disse Ana Bastos. Os HUC estão sobre jurisdição do seu conselho de administração, mas a autarquia vai aumentar a fiscalização nas imediações.

Depois, a Ecovia tem também um problema de desenho. “O sistema de parque & ride baseia-se em parques de estacionamento periféricos em que as pessoas são convidadas a largar o seu carro a convidadas a apanhar a rede normal de transportes públicos”, recorda a vereadora. “O que foi feito em Coimbra foi uma meia solução. As pessoas têm que entrar na cidade e passar pelos pontos críticos em termos de congestionamento de procura de tráfego” para aceder aos parques de estacionamento da Ecovia. “Não estamos a tirar carros do centro da cidade. Pelo contrário: estamos a chamá-los”, aponta. Os parques terão que ser re-localizados.

A suspensão da linha roxa foi aprovada com os seis votos favoráveis da coligação no poder e uma abstenção da CDU. O PS, que estava na presidência quando o sistema foi implementado, votou contra. A vereadora socialista Regina Bento considerou que esta suspensão é um “retrocesso na política de mobilidade ambiental e sustentável que se estava a preconizar” na cidade. Lembrou também que o sistema arrancou num contexto difícil, com pandemia, férias escolares e transição de executivos camarários pelo meio.

Pólo I continua sem metrobus (pelo menos para já)

“A obra vai avançar nos termos em que está, sob risco de perdermos o financiamento. Acho que esse risco Coimbra não pode correr”, afirmou Ana Bastos. A vereadora referia-se à Linha do Hospital do Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM), que não passa pelo Pólo I da Universidade de Coimbra, um dos pontos de maior procura da cidade. Como está, o sistema de autocarros eléctricos pára na Praça da República. Essa mesma exclusão tinha sido criticada pelo Somos Coimbra, quando o movimento estava na oposição. Era também um dos pontos do programa com que o agora presidente, José Manuel Silva, concorreu a eleições: levar o SMM à alta universitária.

Não vai acontecer, pelo menos para já, explicou Ana Bastos aos jornalistas, no final da reunião de câmara. A responsável acrescentou que o executivo já se reuniu com com o secretário de Estado dos Transportes, Jorge Delgado, com a Infra-estruturas de Portugal e com a Sociedade Metro Mondego para consciencializar as entidades de que houve um erro no desenho da linha do Hospital. “Esse aspecto, acho que já o conseguimos”, notou. Mas esse reconhecimento não vai a tempo de corrigir a mão. “É fácil de perceber que não estamos em condições de rever o projecto”, sublinhou a vereadora, referindo que a empreitada está em fase de adjudicação.

No entanto, a hipótese de levar o SMM à alta ainda não está descartada. “Em simultâneo, continuamos a fazer a nossa pressão e a exigir que o Pólo I seja devidamente servido”. Isso poderá acontecer numa “segunda fase”, que tem ainda “financiamento indefinido”. Há várias hipóteses de circuito em cima da mesa, referiu, sem detalhar, embora a ideia seja “efectivamente servir directamente o Pólo I” com os autocarros do SMM.

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