O que é que se passa? É a pandemia e é um disco de Ramón Galarza!

Gravado durante a pandemia, o novo álbum da Ramón Galarza’s Band já está nas plataformas digitais e chega esta semana às lojas em CD. Chama-se Qu’est-qui se Passe?

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Ramón Galarza (ao centro), com Ryoko Imai, Diogo Santos, Bernardo Fesch, António Mão de Ferro e Moisés Fernandes DR

Músico, compositor e produtor, Ramón Galarza será mais conhecido pelo seu trabalho com inúmeros músicos e projectos, da Banda Sonora de Rui Veloso em 1980 à direcção musical de vários programas de Herman José, do que pelo seu trabalho em nome próprio. Mas é este que agora o traz de novo à ribalta, com a publicação de um novo álbum a que deu o nome de Qu’est-qui se Passe?. Lançado nas plataformas digitais em finais de 2021, a edição física (em CD) chega esta semana às lojas. É o segundo disco que grava com a Ramón Galarza’s Band (agora um sexteto), depois de Galarza (2018). Antes, gravara Herr G 51.11 (2009) e durante a pandemia lançou Symetrix (2020). Ambos a solo.

E era a solo que Ramón Galarza se preparava para gravar o seu segundo disco, quando lhe sugeriram formar um grupo. “Ia fazê-lo, como no primeiro, sozinho”, diz Ramón ao PÚBLICO. “Aí, conheci o Bernardo Fesch (que é o baixista da banda), ficámos muito amigos, começámos a tocar juntos e mostrei-lhe o material que tinha composto para o disco. Ele gostou, ficou muito entusiasmado e teve a feliz ideia de me sugerir que devia ser um disco mais orgânico, menos individualista.” Por sugestão de Bernardo, juntaram os restantes músicos. “Demo-nos logo muito bem e decidimos formar uma banda.”

Instrumentais e canções

Assim, juntaram-se a Ramón Galarza (bateria, percussão, programações e coros) e a Bernardo Fesch (baixo e coros), numa primeira fase, António Mão de Ferro (guitarra e voz), Diogo Santos (piano, sintetizadores e acordeão) e Moisés Fernandes (trompete, flugel e coros). Quinteto que mais tarde passou a sexteto, com a entrada da instrumentista japonesa Ryoko Imai (marimbas e percussão). É esta formação que surge em Qu’est-qui se Passe?, onde a maioria dos temas é da exclusiva autoria de Ramón (nove em catorze: Arabian Zappa, Hangover, Swing all, Promenade, Lotus, Funky snake, Buenos Aires, Groovinx e Reflections), mas há outros que ele assina em parceria com Bernardo Fesch, Diogo Santos e Moisés Fernandes (Bagdad nights, Iron Island), só com Bernardo Fesch (autor das letras de Inspiration e Dr. Spencer) ou com Diogo Santos (Jumping).

“Isso já foi fruto do relacionamento que tivemos, do nosso convívio, por tocarmos juntos”, diz Ramón Galarza. Apesar de o disco ser quase totalmente instrumental, dos três singles lançados em Janeiro de 2021 ainda a anunciar o disco, dois eram cantados (Dr. Spencer e Inspiration) e apenas um (Reflections) instrumental. “Nessa fase, achámos que apostar nos temas cantados seria mais fácil para garantir um maior interesse do público. Mas, com o tempo, assumimos que somos músicos que gostam de tocar música instrumental, que é isso que nos dá gozo, e daí decidimos (todos, em conjunto) esquecer essa tentativa e assumir que a nossa praia é esta. Há muitas bandas por esse mundo fora que nos influenciam e fazem este tipo de música. Em Portugal, já assisti a concertos de bandas como os Snarky Puppy e vi à minha volta gente de uma geração na casa dos 20 anos a trautear os temas instrumentais, não a cantar uma letra. Por isso, há espaço.”

Influências da pandemia

O tema Inspiration conta com a voz de Kiko Pereira, cantor e músico portuense que em 2021 lançou o disco Threadbare, o primeiro da formação Kiko & the Blues Refugees. O convite teve razões óbvias, explica Ramón: “Quisemos convidá-lo porque é nosso amigo, porque é um grande cantor e porque achámos que o inglês dele é perfeito.” Por falar em inglês, é esse o idioma usado na quase totalidade dos títulos dos temas, embora o título do disco seja uma interrogação em francês. “Eu tenho uma cultura francófona desde a Primária, andei no Liceu Francês, e volta e meia digo umas coisas em francês. Numa das vezes que estávamos aqui todos juntos, a falar daquilo que a pandemia nos tem feito passar, saiu-me essa expressão. E vi que tinha uma musicalidade especial. Não tem nada de transcendente, mas achámos que era sugestivo e chamava à atenção. É um pequeno alerta, para ver se este quotidiano que nos rodeia se altera de uma vez por todas.”

Nascido em Lisboa, no dia 1 de Novembro de 1957, filho de Shegundo Galarza (1924-2003), pianista e maestro basco que cimentou a sua carreira a partir de Portugal, Ramón gravou entre os dois álbuns em nome da Ramón Galarza’s Band um disco mais experimental só com instrumentos digitais. Foi no primeiro ano da pandemia, lançando-o em 20 de Novembro de 2020 apenas nas plataformas digitais. Chamou-lhe Symetrix e, numa das suas sete faixas, recria virtualmente um dueto com o pai no tema Passeio em Sintra, rebaptizado com o título Passeio em Sintra com o meu Pai.

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