Recuo da costa não pára. Figueira da Foz e Ovar são pontos críticos

Há zonas do litoral em que o recuo da costa chegou quase aos 43 metros. Agência Portuguesa do Ambiente tem previstas intervenções até 60 milhões de euros, nos próximos seis anos, que pretendem repor areia em seis troços mais ameaçados

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Em Ovar ainda há quem se lembre de ter de andar centenas de metros pelo areal para chegar ao mar, que agora está mesmo ali ao lado Adriano Miranda

Portugal tem 180 quilómetros de costa em erosão e, entre 1958 e 2020 o país perdeu 1313 hectares de terreno litoral para o mar, com recuos médios entre os 0,5 e os nove metros por ano. Para tentar reverter a situação, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) vai investir entre 45 a 60 milhões de euros, até 2028, na alimentação artificial de praias com areia. Uma medida já em curso há vários anos e que nem sempre é eficaz.

A informação está na edição deste sábado do Jornal de Notícias, e resulta da compilação de dados fornecidos pela APA e pelo programa COSMO, de monitorização da costa. Segundo o diário, a intervenção prevista pela APA será desenvolvida em seis troços, de Norte a Sul do país, em concreto entre Ofir e Pedrinha, em Esposende, Cortegaça e Torrão do Lameiro (Ovar), Praia da Barra e Mira (Costa Nova), Cova-Gala e Lavos (Figueira da Foz), na Costa da Caparica (Almada) e entre Quarteira e Vale do Lobo, no Algarve.

O troço da Figueira da Foz, que já teve 11 deposições de areia, segundo o JN, é aquele em que a erosão tem sido mais sentida, havendo um recuo da linha da costa, entre 2018 e 2021 de 42,5 metros. Se olharmos para a década 2010-2020, o recuo chega aos 70 metros. A zona de Ovar que será intervencionada (e que já o foi por duas vezes) também recuou 35 metros entre 2018 e 2021. A situação também é particularmente preocupante no troço de Esposende, com 95% da sua extensão de 2,9 quilómetros em erosão.

Entre as poucas boas notícias reveladas pelos dados da APA está o facto de, segundo a agência, “não haver novas zonas em erosão significativa”, escreve-se no JN, contudo também se refere que apesar de se terem investido 350 milhões de euros em reposição de areia na costa nos últimos 15 anos, em sectores como a Costa da Caparica ou a Praia de Faro, “o fenómeno [de erosão costeira] intensificou-se entre 2010 e 2020” no país.

A Costa da Caparica é, apesar disso, um exemplo positivo, já que neste momento tem 93% dos seus quatro quilómetros de praia em situação estável, uma situação atribuída, em parte, à última alimentação artificial de areia, em 2019. Na zona entre Mira e a Praia da Barra, em Ílhavo, mantém-se 25% da costa em erosão, não tendo havido “avanços ou recuos significativos nos últimos quatro anos”, refere-se na notícia.

Apesar de o recuo das linhas de costa a nível mundial aparecer muitas vezes associado às alterações climáticas, e à subida do nível do mar, esse não é o principal factor a influenciar a situação portuguesa. Por cá, o principal problema prende-se com o facto de a costa não estar, simplesmente, a receber sedimentos suficientes, em parte por causa das barragens construídas ao longo dos cursos e que impedem a sua livre circulação.

A reposição de areias é apenas uma das formas de lidar com um problema que, acreditam os especialistas, será cada vez mais presente. A retirada de estruturas das zonas mais afectadas ou a construção de estruturas de defesa ao longo da costa, são outras. E mesmo assim há estudos que apontam que há casos em que, simplesmente, vamos perder a batalha. Na Universidade de Aveiro, por exemplo, há estudos que dizem que em 2040, a zona de Ovar praticamente deixará de ter praias.

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