Von der Leyen insiste que solução para a crise na Ucrânia passa “forçosamente” pela Europa

Numa conferência conjunta no Eliseu, para assinalar o arranque da presidência francesa do Conselho da UE, Emmanuel Macron recuperou a ideia da reabertura do diálogo com a Rússia, “um actor incontornável para a arquitectura de segurança europeia” que o seu país quer promover.

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Emmanuel Macron e Ursula von der Leyen no Panteão, em Paris Reuters/POOL

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, insistiu que a União Europeia terá “forçosamente” de ser envolvida na construção de uma solução política para ultrapassar a actual situação de crise junto à fronteira da Ucrânia, num recado claro para os Estados Unidos, e também a Rússia, nas vésperas do encontro bilateral dos Presidentes Joe Biden e Vladimir Putin, para discutir a actual tensão militar.

“Uma coisa é clara: qualquer que seja a solução [para a situação junto à fronteira], terá de passar pela Europa”, avisou a líder do executivo comunitário, esta sexta-feira, em Paris, onde assinalou o arranque da presidência francesa do Conselho da União Europeia.

Ao lado do Presidente de França, Emmanuel Macron, numa conferência de imprensa conjunta no Palácio do Eliseu, Ursula von der Leyen recordou o “enorme apoio” político e económico da UE à Ucrânia, e também as sanções adoptadas pelos 27 para punir a Rússia na sequência da anexação da Crimeia e também das suas agressões na região do Donbass. “Tudo isto são factos naquele teatro”, apontou.

Von der Leyen lembrou ainda que os países europeus formam a maioria da NATO, e que a aliança militar atlântica “também é crucial neste diálogo”. Os ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO reuniram, em formato virtual, esta sexta-feira, para abordar a situação na fronteira da Ucrânia. Os chefes do Comité Militar da aliança farão o mesmo não final da próxima semana, após as reuniões do Conselho NATO-Ucrânia, e do Conselho NATO-Rússia, marcadas para os dias 10 e 12 de Janeiro, respectivamente.

O Presidente francês sublinhou a importância destes encontros, e também das conversações entre os Estados Unidos e a Rússia, que encara como positivas, e aproveitou a oportunidade para recuperar a sua ideia da reabertura do diálogo com a Rússia, que avançou e defendeu com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, na cimeira europeia de Outubro passado, perante a consternação dos restantes parceiros do Conselho Europeu.

“Penso que a UE deve dialogar com a Rússia. Dialogar não é fazer concessões, dialogar é poder apresentar as nossas posições, fazer um ponto da situação sobre os nossos desentendimentos e procurar pontes”, distinguiu Emmanuel Macron, que está disponível para assumir um papel preponderante nesse “diálogo franco, exigente e coordenado” a nível europeu, até porque “nem todos os Estados-membros da UE têm a mesma história e a mesma geografia face à Rússia”.

A construção de uma nova arquitectura para a segurança europeia, nomeadamente através da aprovação de uma Bússola Estratégica para guiar a política de segurança e defesa dos 27, já no próximo Conselho europeu de Março, é uma das prioridades assumidas pela presidência francesa do Conselho da UE — e o Presidente francês assinalou os vários contactos e deslocações bilaterais que realizou nas últimas semanas para “compreender as preocupações” dos seus parceiros e “integrá-las” na agenda da reunião informal de chefes de Estado e governo que está prevista para 10 e 11 de Março.

Para Macron, “a Rússia é um actor incontornável para essa arquitectura de segurança europeia que devemos debater”. “Tive duas conferências telefónicas muito longas com o Presidente [Vladimir] Putin nas últimas semanas, e voltarei a ter nos próximos dias”, revelou.

A ambição do Presidente francês é que a agenda e as propostas que preparou para o seu exercício da presidência rotativa do Conselho da UE se revelem “úteis” para a Europa, e encorajem a UE a assumir, sem ambiguidade, o seu “poder concreto” enquanto “potência geopolítica” mundial. “Queremos usar este semestre para construir as bases da nossa autonomia estratégica, com a arquitectura da defesa europeia, mas também a nossa política industrial, tecnológica ou comercial”, apontou Macron. “É verdade que já o fazemos por conta da situação, mas enquanto UE devemos apresentar a nossa própria visão das coisas e agir em conformidade”, referiu.

A presidente da Comissão Europeia destacou o “contexto delicado” em que a França assume a sua responsabilidade pela condução dos trabalhos do Conselho da UE, num momento em que “a situação sanitária continua preocupante”, o fundo de recuperação da crise “Próxima Geração UE” começa a chegar ao terreno para transformar a economia europeia, e as “tensões e intimidações” ameaçam desestabilizar a vizinhança e os aliados tradicionais da UE.

“É bom, em momentos como estes, contar com a voz da França, que “se faz ouvir alto e forte”. “A França tem a Europa no coração”, rematou Ursula von der Leyen.

* A jornalista viajou a convite da presidência francesa do Conselho da União Europeia.

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