Ao fortíssimo ataque perpetrado por hackers aos sites do Expresso e da SIC, respondeu a Impresa (o grupo de comunicação social detentora desses dois órgãos) com um comunicado que classificava este acto como um “atentado nunca visto à liberdade de imprensa em Portugal”. A vítima de um crime espectacular de sabotagem e tentativa de extorsão dissimulava assim as suas fragilidades (certamente não exclusivas: a máquina cibernética, como sabemos, não é uma fortaleza inexpugnável) com um discurso reclamando o estatuto heróico de quem desempenha uma alta missão, agora confrontada com novos e anónimos inimigos. Esta reivindicação não é apenas ridícula e despropositada; é também perigosa porque desloca este acto de pirataria para um plano político e ideológico. Faz dos seus atacantes (que, segundo foi noticiado, exigem um resgate, em bitcoins) actores de uma insurreição, defensores de uma causa, por mais condenável que ela nos pareça. Se é um atentado à liberdade de imprensa, então é mais um episódio de uma guerra civil planetária, como são hoje as guerras civis. A corporação jornalística não se consegue representar senão com as roupagens de uma nobreza decadente que investe tudo nas pretensões de casta.
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