PSP acusada de agredir várias pessoas na passagem de ano em Beja

A queixa contra a PSP foi apresentada ao Ministério Público, à Inspecção-Geral da Administração Interna e ao Provedor de Justiça por uma das alegadas vítimas, que afirma que a maioria das pessoas agredidas de forma indiscriminada pelos agentes da PSP eram imigrantes.

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A carga policial terá ocorrido na Praça da República em Beja Paulo Pimenta

Agentes da PSP foram acusados de agredir várias pessoas, “a maioria imigrantes”, na madrugada da passagem de ano, em Beja, por uma das alegadas vítimas, um português que já apresentou queixa a diversas entidades, incluindo o Ministério Público.

Na queixa, à qual a Lusa teve acesso esta quarta-feira, Nuno Matos, que a apresentou e é uma das alegadas vítimas, conta que, na madrugada do passado dia 1, por volta da 1h, “houve uma carga policial contra algumas pessoas” que celebravam a entrada no novo ano na Praça da República”, local tradicional de várias celebrações na cidade de Beja.

“Estava cerca de uma dúzia de pessoas, dispersas em pequenos grupos”, e, “de forma abrupta”, chegaram “quatro veículos da PSP”, dos quais saíram “cerca de duas dezenas de agentes, aos gritos e insultos”, munidos de “cassetetes, distribuindo bastonadas indiscriminadamente, sem dirigir qualquer palavra antes”, alega Nuno Matos, de 58 anos, na queixa.

Nuno Matos relata que se afastou “calmamente do local”, mas foi “agredido de costas, com uma bastonada na mão esquerda”, tal como “outras pessoas presentes, com empurrões e violência injustificada”.

“A maioria das pessoas” que estavam na praça era constituída por “imigrantes”, os quais “foram cercados, agredidos e perseguidos, sem terem tido qualquer reacção que não fugir ou tentar proteger-se”, argumenta.

Segundo o autor da queixa, “não houve nenhuma situação de resistência à autoridade, nenhuma ameaça, nem sequer comportamentos exagerados nas celebrações. Houve apenas uma desproporcional e desadequada demonstração de força”.

“Aliás, nem eu, nem outras pessoas presentes mais próximas foram sequer identificadas”, frisa, relatando que um dos presentes gravou em vídeo o ocorrido, “no sentido de recolher possíveis provas relevantes, tendo sido ilegitimamente coagido pelos agentes a não o fazer”.

Na queixa, Nuno Matos considera que “foi um evidente acto de uso exagerado da força e abuso de autoridade por parte dos agentes da polícia perante as circunstâncias, com laivos de xenofobia”.

Em declarações esta quarta-feira à Lusa, Nuno Matos disse que, naquela madrugada, por volta da 1h, foi à Praça da República para cumprimentar amigos e pessoas conhecidas que poderiam estar por ali.

Questionado pela Lusa sobre se algumas das pessoas estaria a violar regras decretadas para os dias de passagem de ano, nomeadamente a proibição de ajuntamentos de mais de 10 pessoas e de consumo de bebidas alcoólicas na via pública, Nuno Matos disse: “É possível”.

“Havia ali garrafas, havia copos. Eu tinha um copo na mão, não estava a beber, mas já tinha bebido. Mas, mesmo que a questão possa ser essa, o que me deixou indignado foi que não houve sequer tentativa de falar com as pessoas”, frisa.

Após a alegada agressão de que diz ter sido alvo, revela que ficou com ferimentos na mão esquerda e dirigiu-se às urgências do hospital, onde foi assistido. Afirmando que está “incapacitado de usar a mão” e “impedido de trabalhar”, Nuno refere que pretende “pedir indemnização ou ser ressarcido de forma adequada”.

Após “dois dias a pensar no assunto”, diz que, por estar “indignado”, foi à Esquadra da PSP de Beja, na terça-feira, para relatar a situação e mostrar vídeos da mesma, mas foi-lhe dito que não havia registo de “nenhuma ocorrência fora do comum” naquela noite. Nesse mesmo dia, acabou por apresentar queixas electrónicas ao Ministério Público, à Inspecção-Geral da Administração Interna e ao Provedor de Justiça contra a PSP.

A Lusa contactou esta quarta-feira o Comando Distrital de Beja da PSP, que remeteu esclarecimentos sobre o assunto para um comunicado a emitir.

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