Audrey Diwan: “O corpo da mulher é mais político do que o do homem”

Se dissermos “é um filme sobre o aborto passado na França dos anos 60” apoiamo-nos em bengalas de simplificação. O Acontecimento concretiza a) o filme de época com uma concisão e sentido de abstracção que faz implodir o género, e b) arruma a um canto o “filme de tema”, arranjando espaço ao centro para os corpos. Audrey Diwan venceu com ele o Leão de Ouro de Veneza.

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Ao premiar em 2021 Audrey Diwan (Leão de Ouro, “por unanimidade”, a O Acontecimento), Jane Campion (prémio de melhor realização a O Poder do Cão) e Maggie Gyllenhall (The Lost Daughter, melhor argumento), o júri do Festival de Veneza presidido por Bong Joon-ho formalizou uma espécie de aliança ou sublinhou-a num palmarés que parece ter sido milimetricamente coreografado: as verdades escondidas do mundo feminino, extravasadas da sensualidade lírica e tordue da neo-zelandesa Campion, em filmes como Um Anjo à Minha Mesa ou O Piano, a serem continuadas pela francesa de origem libanesa Diwan e pela norte-americana Gyllenhall. Que no palco do Lido como que formalizavam, e foi bonito vê-las a dar conta da herança, uma passagem de testemunho.

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