Catarina Martins vs. Rui Tavares: um encontro de primos cada vez mais afastados

Ainda que Rui Tavares concorde plenamente com as propostas do Bloco, Catarina Martins aproveitou para ser paternalista com o fundador do Livre, atirando-lhe com o currículo de quem tem prática de negociar há seis anos com António Costa. “Se o Livre propõe ‘estudar’ e ‘equacionar’ a exclusividade dos médicos, António Costa diz logo que sim e cria um grupo de trabalho.”

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Catarina Martins e Rui Tavares debateram esta terça-feira LUSA/MÁRIO CRUZ
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Rui Tavares arrancou o debate desta terça-feira a lembrar a proximidade política entre Livre e Bloco de Esquerda: no concelho onde fica a SIC, Oeiras, o seu partido e o BE concorreram às autárquicas em coligação, que também incluía o Volt. Não falou de que também ele foi eleito eurodeputado nas listas do Bloco de Esquerda (durante o mandato cortou com o partido) mas o passado comum estava no subtexto de um debate que reuniu o primeiro partido a defender a geringonça – Livre – e um que, de facto, a conseguiu protagonizar, o Bloco, em conjunto com o PCP.

Catarina Martins agarrou nas suas bandeiras fundamentais, acusando Rui Tavares de as ter minimizado ou ignorado no seu programa: investimento no Serviço Nacional de Saúde, exclusividade dos médicos e retirada da herança da troika nas leis do trabalho. Ainda que Rui Tavares concorde plenamente com as propostas do Bloco, Catarina Martins aproveitou para ser paternalista com o fundador do Livre, atirando-lhe com o currículo de quem tem prática de negociar há seis anos com António Costa.

“Se o Livre propõe ‘estudar’ e ‘equacionar’ a exclusividade dos médicos, António Costa diz logo que sim e cria um grupo de trabalho”. O Bloco, que já anda aqui há algum tempo – é verdade que na campanha de 2015, em que defendeu a “geringonça”, o Livre não conseguiu eleger nenhum deputado – diz que “é preciso que a esquerda tenha força para proteger o SNS” e insiste que o Bloco se quer manter como terceira força política.

A janela de oportunidade do Livre é ter os favores do eleitorado de esquerda que não gostou de ver o Bloco de Esquerda e o PCP a chumbar o Orçamento do Estado mas não quer contribuir para a maioria absoluta do PS. Se, em frente a Catarina Martins, Rui Tavares não repetiu o slogan do Livre – “a esquerda bota acima e não bota abaixo” –, foi muito crítico do facto do Orçamento ter sido chumbado logo na generalidade.

“Muitos eleitores à esquerda estão preocupados porque acham que houve uma intransigência do Bloco de Esquerda e do PCP” – é por aqui que Rui Tavares espera navegar até 30 de Janeiro, combatendo a maioria absoluta do PS (“a arrogância de António Costa não diminui com uma maioria absoluta”) e até explorando que um voto no PS pode ser um voto no desconhecido: “Não sabemos se vence a linha de Sérgio Sousa Pinto ou a de Pedro Nuno Santos”.

Catarina responde à acusação de intransigência: “Quando fala da intransigência do Bloco de Esquerda, Rui Tavares parece António Costa a falar”. E desfiou as justificações do BE: “O PS deixou de querer fazer acordo. Em 2015 aceitou fazer acordo porque não tinha ganho as eleições”. Para a coordenadora do BE, as coisas só podem mudar – a alegada “intransigência” do PS – “com um Bloco de Esquerda reforçado como terceira força política”.

“O BE quis, propôs, fará um acordo à esquerda para garantir uma legislatura”, disse. Rui Tavares também quer entrar no acordo, evidentemente. Mas não compreende – e espera que parte do eleitorado que também não compreenda venha a votar Livre – o chumbo do Orçamento às primeiras: “Porque é que não se chegou a negociar na especialidade? Havia sempre um bom remédio: chumbava-se na votação final. Nunca ninguém entendeu [o chumbo na generalidade] e não há um bom argumento para isso”.

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