Isto não é o “quem quer casar com o agricultor”?

Como Rui Rio afastou o Chega do Governo e André Ventura quis mostrar que têm mais em comum do que aquilo que parece.

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Rui Rio e André Ventura irão entender-se? LUSA/NUNO BOTELHO/EXPRESSO

O debate entre Rui Rio e André Ventura foi mais um capítulo da novela. Seja claro, pediu Clara de Sousa ao líder do PSD: se depender do Chega para formar maioria no Parlamento, coliga-se com o Chega? Rio foi o mais claro que pôde. Quer um acordo parlamentar, mas não aceitará ter ministros do Chega no governo. Quer uma relação tipo “geringonça”, cada um na sua casa, não um casamento com comunhão total de bens.

Os argumentos são muitos: “Divergências de fundo”; “o Chega é um partido instável” que “na primeira oportunidade” ameaçou ‘sair de casa’ nos Açores: “não vamos violentar os nossos princípios”, disse Rio.

“Isto não é o programa ‘Quem quer casar com o agricultor’”, ripostou André Ventura. “Não tem de gostar de mim”, acrescentou, mostrando-se quase disposto a amar pelos dois, como cantava Salvador Sobral no Festival da Canção.

Foi por isso que se esforçou por mostrar que, afinal, ambos têm mais em comum do que aquilo que parece. E foi ele que acabou por definir a pauta do debate. Prisão perpétua? “Há uma forma mitigada em que o condenado pode sair ao fim de 15 anos”, admitiu Rio. Subsidiodependência? “Os apoios sociais têm de se manter, mas quero fiscalizar, é preciso moralização”, concedeu o líder do PSD. Sobre justiça nem falou, não era preciso, e quanto à redução de deputados comprava já a ideia dos 100 parlamentares, se fosse este o único motivo: “Era um sossego porque André Ventura não estava lá”.

Estiveram também de acordo em dizer que “as pensões são intocáveis” e Ventura até admitiu que é preciso imigração, mas controlada, para fazer face à falta de mão-de-obra. E ainda que na questão do regime divirjam na narrativa, Rio insistiu que precisa de um “abanão”, mas para ficar mais democrático.

Se tomarmos o debate pelo valor facial das palavras, poderíamos concluir que a questão do casamento tinha ficado arrumada. Não haverá coligação de governo. Resta saber se uma boa união de facto, com papel passado sobre os termos do acordo, mas sem aliança nem coabitação, será a solução do dia 31. Ou antes se Rio é apenas, como rematou Ventura, “o homem que quer ser vice de António Costa”.

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