Ei, 2022, não desisti de ti e vou voltar a tentar, hei-de conseguir!

Rui Gaiola cresceu no Sabugal e dedica parte da sua vida à “solitária” fotografia de viagens, onde ilhas, montanhas, florestas, lagos e o tempo invernoso são o seu cenário preferido. Em 2020 lançou o livro I wish I could drive these roads forever, um livro de fotografia sem fotografia na capa. É um dos responsáveis pelo Naturcôa.

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No Caldeirão do Corvo, Açores Rui Gaiola

Estamos no início do ano, com números históricos de casos diários de covid-19 e a minha cabeça está baralhada e cheia de incertezas. Mas acho que todos os que gostam de viajar se devem estar a questionar como vai ser o ano de 2022 a nível de viagens, fronteiras, aviação e restrições. A esperança e o positivismo, que abundavam, estão feridos e sem confiança e o que eu menos queria é que esta pequena retrospectiva do ano fosse negativa, mas não posso ignorar os planos e as viagens de 2020 e 2021 que ficaram por fazer, as que foram canceladas, adiadas — e algumas das quais não consegui recuperar o dinheiro investido. Para quem gosta e quer viajar, dois anos é muito tempo, mas ei, 2022, não desisti de ti e vou voltar a tentar, hei-de conseguir!

Falando do que interessa, as viagens deste ano. As viagens deste ano foram menos do que estavam planeadas e recaíram, e bem, sobre Portugal. Dediquei mais tempo a um lugar de que gosto muito e é especial para mim, a Serra da Malcata, localizada entre o Sabugal e Penamacor e que merece muito a nossa atenção. Revisitei a Serra da Estrela, o Gerês, a Costa Vicentina e conheci zonas novas como Proença-a-Nova, Figueiró dos Vinhos, Loriga, Sazes da Beira e a zona sudoeste de Coimbra.

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Rui Gaiola

O destaque inicial vai para duas viagens, uma a meio do ano em que visitei as Flores e o Corvo nos Açores e outra para o fim do ano que visitei a Ilha da Madeira e Porto Santo. É sempre difícil falar sobre lugares de que gostamos muito principalmente para quem não tem o dom da escrita, mas somos sortudos por termos esses “pedaços de paraíso” a uma hora e meia de avião e de serem o “nosso Portugal”.

As Flores e o Corvo têm uma beleza inigualável e difícil de pôr em palavras. A localização é uma das características mais fortes destas duas ilhas, o isolamento geográfico e as condições climáticas tornam-nas únicas e cheias de personalidade. Das lagoas às cascatas infinitas das Flores, da vila do Corvo ao Caldeirão na ilha do Corvo, é impossível ficar indiferente a tamanha beleza. Sem esquecer que as “gentes” são parte muito importante do património destas ilhas, é delicioso conversar com os locais, conhecer a realidade deles e as suas histórias.

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Pelas Dolomitas, Itália Rui Gaiola

A Madeira precisa de dedicação, de tempo e de pernas. Há muito para ver, há muito para experienciar e há muito para se viver. A oferta de experiências na natureza, os passeios de barco, de jipe, as caminhadas são intermináveis e isso faz-nos querer voltar para conhecer mais e melhor. A 25 minutos de avião ou duas horas de navio fica o Porto Santo, conhecido pelas praias de água turquesa, mas é muito mais que isso. Para mim são os recantos, a geologia, o contraste do amarelo da areia com o vermelho da terra, os ilhéus e as Poças (Porto das Salemas) que fazem a ilha e marcam a diferença da imagem que temos daquele lugar. Estas duas ilhas partilham uma gastronomia que não se pode ignorar — é delicioso comer nos restaurantes ao longo das ilhas onde o bolo do caco, as lapas e as espetadas acompanhadas por uma Brisa maracujá são lei.

Diz-se “nunca voltes ao lugar onde já foste feliz” e não podia discordar mais porque gosto muito de repetir lugares que já visitei. É uma mistura de reviver lugares e memórias e a oportunidade de conhecer mais e melhor um lugar que gostamos. Foi isso que aconteceu na única viagem que consegui fazer fora de Portugal: as Dolomitas em Itália. Esta está sem dúvida nenhuma no meu top cinco de destinos, é uma beleza arrebatadora com escala e com paisagens marcantes. Das capelas ao longo das montanhas ao Tre Cime di Lavaredo, do Alpe Di Siusi ao Lago di Braies,​ a viagem é surpreendente a cada paragem e a cada caminhada. No Outono, o contraste de cores que observamos frequentemente nas paisagens florestais fazem-nos sentir que estamos em bosques encantados, recomendo veementemente.

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