Mataram a Cotovia é o melhor livro dos últimos 125 anos para os leitores do New York Times

O romance de Harper Lee encabeça um top cinco que se completa com A Irmandade do Anel, de J. R. R. Tolkien, 1984, de George Orwell, Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, e Beloved, de Toni Morrison.

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Harper Lee em 2007, quando da distinção por George W. Bush com a Medalha da Liberdade dos Estados Unidos Reuters/LARRY DOWNING

Em Outubro, a Book Review do The New York Times cumpriu o seu 125.º aniversário. Para festejar a longevidade da sua secção literária, o diário norte-americano convidou os leitores a nomearem o melhor livro publicado durante esse período. Contabilizadas as mais de 200 mil respostas recebidas, a escolha recaiu, “por uma margem curta”, em Mataram a Cotovia, o romance de estreia da norte-americana Harper Lee, publicado em 1960.

Os participantes na votação, originários de 67 países mas claramente e, diríamos, naturalmente, dado tratar-se do mais importante jornal de língua inglesa pendendo para a literatura no idioma de Shakespeare, escolheram, nas posições abaixo de Mataram a Cotovia, A Irmandade do Anel, o primeiro volume da saga O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien, 1984, de George Orwell, Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez (única presença de uma língua que não o inglês nos cinco melhores), e Beloved, de Toni Morrison.

Mataram a Cotovia, que valeu a Harper Lee o Prémio Pulitzer e que seria adaptado ao cinema em 1962, num filme realizado por Robert Mulligan e protagonizado por Gregory Peck, constitui um retrato cru e complexo da sociedade do Sul dos Estados Unidos nos anos da Grande Depressão, desenhado através do olhar das crianças protagonistas. Cresceu em estatuto, depois de um tímido acolhimento inicial pela crítica, até se tornar um clássico da literatura americana e obra fundamental, para um grande número de norte-americanos, para a consciencialização do legado da escravatura e da violenta história racial do país.

Envolto em polémica praticamente desde o seu lançamento, pelo uso de calão racista e pela violência sexual presente, foi regularmente alvo de censura (ou de tentativas de) em vários estados e escolas americanas – e não só: no Verão passado, uma escola secundária de Edimburgo anunciou que alguns clássicos do seu programa, entre os quais Mataram a Cotovia, seriam substituídos por textos ditos “menos problemáticos”.

A votação promovida pelo The New York Times pretendeu replicar aquilo que foi prática comum nas primeiras décadas de existência da sua Book Review, quando os leitores eram convidados a votar as suas preferências literárias, na altura divididas por romance, conto e poesia.

Em 2021, não foram definidas quaisquer categorias. Abertas as votações em Outubro, foram nomeados mais de 1300 livros, 65% deles escolhidos por um leitor apenas, e, em Novembro, foram anunciados os 25 finalistas. Entre eles, não estava Onde Vivem os Monstros, clássico absoluto da literatura (infantil no caso) de Maurice Sendak: “Da cadência ao ritmo à ilustração e à história em si mesma, Onde Vivem os Monstros é o mais perfeito dos livros. Morrerei a defendê-lo”, argumentou a leitora Sarah Beth West, de Chattanooga, Tennessee. Não estava, igualmente, a escolha “disruptiva”, digamos, do senhor Cody Clark. De Houston, Texas, este leitor escreveu, em defesa de The Joy of Cooking, que o livro de receitas publicado em 1931 por Irma S. Rombauer “pode ser curto em enredo e personagens, mas revelou novos mundos” à sua família.

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