Morreu Harry Reid, líder dos democratas no Senado que fez aprovar o Obamacare

Cresceu na pobreza profunda e chegou aos corredores do Congresso. Incentivou Obama a candidatar-se à presidência e ajudou-o a aprovar legislação histórica.

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Reid nasceu em 1939 numa pequena povoação mineira do Nevada Reuters

Harry M. Reid, o democrata que nasceu na pobreza no Nevada e chegou ao topo do poder em Washington, liderando a maioria democrata no Senado, morreu aos 82 anos, “em paz” e rodeado por amigos “depois de uma corajosa batalha de quatro anos com cancro do pâncreas”. No Senado, conduziu a aprovação do Affordable Care Act, conhecido como Obamacare, da lei da reforma financeira de Wall Street e do American Recovery and Reivestment Act, de 2009, o pacote de estímulo desenhado para enfrentar a grave recessão provocada pela crise de 2008.

Nascido em Searchlight, pequena povoação mineira em Clark County, Nevada, mudou-se para casa de uns familiares para poder ir para o liceu, onde jogou futebol e praticou boxe amador enquanto estudava – o seu treinador foi Mike O’Callaghan, que era professor no liceu de Henderson e viria a ser governador do Nevada. Estudou Ciência Política, História e Economia antes de se formar em Direito na Universidade George Washington, enquanto trabalhava como agente da polícia do Capitólio.

Reid já tinha sido eleito para a Assembleia do Nevada quando, aos 30 anos, O’Callaghan o convidou para se candidatar a vice-governador, cargo que ocupou durante três anos. Acabou por regressar a Washington eleito para a Câmara dos Representantes, onde esteve quatro anos antes de ser eleito para o Senado, em 1986.

Depois de liderar a minoria democrata no Senado, de 1999 a 2005, esteve à frente da maioria democrata durante os últimos dois anos de George W. Bush e os primeiros seis da presidência de Barack Obama – 12 anos turbulentos, escreve a imprensa norte-americana, em particular nas negociações do Obamacare e do pacote de estímulo, em que Reid “exibiu os seus instintos de pugilista”, descreve o jornal The New York Times, no obituário assinado por Jonathan Martin.

Martin sublinha que mesmo na política, onde “são comuns biografias que contrariam todas as probabilidades” e as “raízes modestas são um trunfo”, “o que Reid superou foi extraordinário”. “Ele foi criado em circunstâncias quase dickensianas​: a sua casa não tinha canalização interior, o pai era um mineiro alcoólico que acabou por se suicidar e a mãe ajudou a família a sobreviver lavando roupa dos bordéis locais”, descreve.

Numa declaração na terça-feira à noite, o Presidente, Joe Biden, lembrou o “querido amigo”, “um gigante da nossa história”, que “nunca esqueceu as suas raízes humildes”; “um pugilista que nunca desistiu de um combate” e “um grande americano” que “acreditava que estava ao nosso alcance fazer o bem”.

“Harry Reid foi o meu líder, o meu mentor, um dos meus amigos mais queridos”, afirmou o líder da maioria democrata no Senado, Chuck Schumer, anunciando que as bandeiras do Capitólio estarão a meia-haste em homenagem ao homem que serviu durante 34 no Congresso.

Foi Reid, recorda também o obituário do Times, que viu o potencial de Barack Obama quanto muitos democratas se preparavam para apoiar Hillary Clinton – em 2006, encorajou o futuro Presidente a tentar a nomeação democrata. “Eu não teria sido Presidente se não fosse pelo teu encorajamento e apoio, e não teria conseguido fazer grande parte do que fiz sem a tua habilidade e determinação”, escreveu Obama no Twitter.

E foi precisamente quando Obama foi eleito que Reid fez uso da sua determinação e do profundo conhecimento das regras do Congresso para fazer passar legislação história. “Se Harry dizia que ia fazer uma coisa, fazia”, afirmou Biden. “Se ele vos desse a sua palavra, podiam contar com isso. Foi assim que fez acontecer as coisas para o bem do país durante décadas.”

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