Este foi o ano das greves no Metro do Porto, que volta a parar esta quinta-feira

Sindicato dos Maquinistas recusa fixar já o aumento para 2023, antevendo os riscos de o ver absorvido pela inflação. Hoje quase não haverá serviço, avisa a empresa.

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Metro do Porto admite que serviço será fortemente condicionado pela greve Nelson Garrido

Depois de mais de uma década e meia em paz social, a Metro do Porto viu uma greve paralisar quase completamente o serviço prestado pela sua subconcessionária, a ViaPorto, em Dezembro de 2018. Passados três anos, em fase de renegociação do acordo de empresa com esta firma do universo Barraqueiro, e descontente com a postura “intransigente” da entidade patronal, o Sindicato dos Maquinistas voltou à luta e convocou três greves este ano. Só neste mês, o serviço foi afectado vários dias, numa escalada de conflitualidade nunca vista no metropolitano do Porto.

Depois das greves do Final de Julho e de 3 e 7 de Dezembro, a convocatória repete-se. A greve a serviços parciais já decorre desde a madrugada de terça-feira e prolonga-se até dia 4 de Janeiro. Esta quinta-feira a paralisação afectará todas as escalas dos maquinistas. Se nenhum acordo de última hora travar a paralisação, o corrupio de autocarros volta às ruas secundárias em torno da estação de metro da Póvoa de Varzim, como forma de garantir uma alternativa a quem faz o movimento pendular entre a ponta norte da rede e a Senhora da Hora, com paragem em Vila do Conde. Também entre o Ismai e o centro da Maia haverá autocarros alternativos.

No chamado tronco comum do sistema, entre Senhora da Hora e Campanhã, ou há metro – a concessionária admite conseguir organizar “circulações pontuais – ou há serviços da STCP, empresa que opera em Matosinhos, Porto, Gaia, Valongo, Maia e Gondomar. Esta e os operadores rodoviários privados serão o único garante de transporte público no coração do Grande Porto, pois a greve convocada pelo SMaq vai afectar o nível de oferta da Linha Amarela (Gaia-hospital de São João) e encerrar a Azul (Matosinhos), a Violeta (Aeroporto), a Laranja (Gondomar) e a Verde (Maia).

Com forte representação entre os agentes de condução do metro, o SMaq conseguirá, pela terceira vez este ano, parar, praticamente, o metro do Porto, com prejuízo para quem depende do serviço mas também para a própria imagem da empresa concessionária, que é, para a maioria dos clientes, o rosto da operação. O vice-presidente deste sindicato esperava, nesta fase, que a empresa estatal Metro do Porto tivesse já intervindo, para mediar o conflito entre os trabalhadores e a subconcessionária, a Viaporto, criada em 2018 pela Barraqueiro para executar o contrato ganho pelo grupo nesse ano, após concurso público.

Sem metro para o clássico

“A Metro tem sido neutra”, lamenta António Alves, que mantinha, até ao último minuto, disponibilidade total para recuar na greve se a entidade patronal voltasse à mesa com uma proposta aceitável. As duas partes têm estado a negociar a revisão do acordo de empresa. O sindicalista admite que até não estão longe de um acordo em matérias relacionadas com a organização do trabalho. O que os separa é mesmo a vontade da empresa de fixar já o aumento salarial para 2023 em níveis que, nunca satisfazendo por completo as pretensões dos trabalhadores, se tornaram inaceitáveis pela actual conjuntura de incerteza. Quer a provocada pela pandemia, quer a da economia, a braços com pressões nos preços. É, aliás, por temer que a inflação de 2022 esvazie o aumento de 2023 que o SMaq pretende ficar-se, por precaução, pelo acerto dos aumentos para o ano que está prestes a começar.

Do outro lado, o silêncio é a postura escolhida pela ViaPorto, cuja administração o PÚBLICO contactou. Já a Metro, tirando as explicações sobre o “forte impacto” da paralisação no serviço pelo qual dá a cara – para o bem e para o mal – “acompanha” mas nada comenta, também, sobre o conflito, ao qual é, de facto, alheia, mas que a afecta, na verdade. O PÚBLICO tentou ainda, sem sucesso, obter uma reacção da parte da Área Metropolitana do Porto, accionista da Metro e Autoridade de Transportes regional.

Em tempo de recrudescimento da pandemia, de férias escolares e de tele-trabalho, o número de pessoas afectado será certamente menor do que nas greves do início deste mês. Mas tal como no dia 7 de Dezembro, há jogo grande no estádio do Dragão, um Porto-Benfica, desta vez, e os milhares de adeptos que costumam encher as composições não poderão contar com este meio de transporte para ir ao futebol. A Metro do Porto já anunciou, esta quarta-feira, que a estação do Dragão vai estar encerrada, pelo que a STCP, o táxi ou o transporte particular são mesmo as alternativas para chegar ao palco deste clássico.

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