Cartas ao director

Saber comandar sem ser comandado

O almirante Gouveia e Melo, promovido de vice para ter sido agora nomeado chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), assume funções numa altura em que se encontra com um prestígio em alta, como figura nacional de maior destaque em 2021. E assim foi. O almirante dos submarinos passou do anonimato rapidamente para a ribalta por via da coordenação da task force do processo de vacinação contra a covid-19, que conduziu com particular competência, ao ponto de colocar Portugal no top one dos países de maior sucesso na sua aplicação. O êxito das funções de Gouveia e Melo no processo de vacinação pode explicar-se da seguinte forma: no pleno respeito pelas directrizes que lhe foram conferidas, soube comandar sem ser comandado, daí a sua notoriedade. O mesmo se lhe pede agora na Marinha: que saiba comandar mediante plano, que já terá amadurecido, por um ramo de maior formação e operacionalidade, onde não haja equipamentos - como estará a acontecer com a prestigiada fragata “Vasco da Gama” - parados e a apodrecer. E que esse seu exemplo se alargue ao Exército e à Força Aérea, de forma a que se abram mais à sociedade civil, como chegou a acontecer, em tempos, no final dos anos 90. É que as Forças Armadas não se resumem a missões militares no estrangeiro. São, têm que ser, muito mais do que isso. Militares como Gouveia e Melo podem ser uma, entre outras vozes, para mostrarem isso mesmo.

Eduardo Fidalgo, Linda-a-Velha

Substituição na chefia do CEMA

A substituição na chefia do Estado-Maior da Armada de Mendes Calado por Gouveia e Melo deixou-me perplexo, não por Gouveia e Melo não ter competência para tal, mas pela saída de Mendes Calado antes do fim do tempo. É verdade que Gouveia e Melo fez um excelente trabalho na task force da vacinação contra a covid-19, mas não é também verdade que nada há a apontar a Mendes Calado no exercício das funções de CEMA? Porque não deixaram que Mendes Calado terminasse o tempo do mandato? Consta-se que Mendes Calado contestou a nova lei das atribuições hierárquicas dos chefes de Estado-Maior dos três ramos das FA relativamente ao chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, mas será que tal justifica essa demissão? Se é verdade que, aparentemente, a causa desta demissão é isto, fica sempre a dúvida se não será antes por razões políticas. Se é por razões políticas, não se estará a politizar um cargo de confiança militar?

Mário Pires Miguel, Reboleira

Sobre a entrevista a Paes Mamede

Uma entrevista realista e assertiva no PÚBLICO que deve fazer reflectir os grandes responsáveis pelo tecido produtivo de todo o mundo ocidental. A relocalização da produção já deveria ter sido iniciada há muito mais tempo. O que se verifica agora é uma orgia consumista do tipo “pastilha elástica” que criou maus hábitos aos consumidores do fast wear com uma dependência adictiva da produção de baixo custo.

José M. Carvalho, Chaves

O barranquenho já tem suporte legal, mas o Português de Olivença não. Porquê?

Haja alegria por mais um passo dado no reconhecimento de culturas locais como um valor a preservar.O barranquenho foi reconhecido, na Assembleia da República, por unanimidade, como um dialeto que “deve ser conservado”. Desta forma, passa a ser considerado como um bem de interesse cultural com o direito a ser cultivado e a promovido. Estabelecem-se memo medidas para o proteger, promover e valorizar.

Qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade cultural verá nesta novidade algo de positivo. E, todavia... Todavia, uma contradição salta à vista. Numa região bem definida, que a seguir se identificará mas que não fica longe de Barrancos, subsiste um falar português alentejano, com algumas marcas próprias. Teimosamente. Numa resistência de duzentos anos. Ou resiliência, como está na moda dizer-se. As autoridades buscam actualmente promovê-lo. Há mesmo, o que é mais controverso, quem defenda ser esse português algo de razoavelmente diferenciado, e não faltou uma empresa portuguesa, de Campo Maior, que se ofereceu para o divulgar.

Não é muito difícil perceber que se está a falar da região de Olivença (incluindo o novo concelho de Táliga). O que será preciso para órgãos de soberania portugueses, incluindo a Assembleia da República, deram alguma atenção a esta realidade? Note-se, como curiosidade, que, a nível de Estado, Portugal considera haver ali um problema de definição de soberania. Então… porquê tanto silêncio? Olivença precisa, pelo menos culturalmente, que o Estado português lhe dê a mão.

Carlos Luna, Estremoz

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