Mísseis israelitas fazem “danos significativos” no principal porto comercial da Síria

Ataques de Israel são frequentes desde o início da guerra, mas intensificaram-se recentemente. Alvo voltou a ser o terminal de contentores do porto, depois de um primeiro ataque contra um carregamento de armas iraniano.

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O ataque israelita provocou várias explosões e desencadeou um incêndio no porto Reuters

O regime sírio acusa Israel de uma “agressão” que causou “grandes danos materiais” no porto de Latakia, o principal porto comercial da Síria, no Mediterrâneo, que é porta de entrada para muita carga vinda do Irão, mas também da maioria das importações do país, devastado por uma década de guerra e pelas sanções económicas impostas pelos países ocidentais.

Israel ataca com frequência alvos na Síria, na maioria dos casos alvos ligados à presença iraniana no país, mas nunca tinha visado o porto de Latakia até este mês: nesse primeiro ataque, no dia 7, o objectivo foi um carregamento de armas iraniano, segundo a organização Observatório dos Direitos Humanos, ligada à oposição síria.

A cidade portuária de Latakia é também a capital de facto da minoria islâmica xiita alauita, que há 50 anos domina a política, a economia e as forças de segurança do país, e à qual pertence a família do Presidente, Bashar al-Assad. Ali se concentra uma grande população alauita. A Rússia, que tem sido o principal aliado internacional do ditador durante a guerra, tem uma base aérea em Hmeimin, 20 quilómetros a sul da cidade.

De acordo com os media oficiais, o ataque israelita, com vários mísseis, aconteceu durante a madrugada e teve como alvo o terminal de contentores do porto. Imagens em directo na televisão estatal mostraram esta zona envolta em chamas e fumo. Os mísseis terão ainda atingido a fachada de um hospital, edifícios residenciais e lojas, mas as primeiras notícias indicam que não terá havido vítimas.

Diferentes relatos dão conta de que as explosões se ouviram em Tartus, outra cidade costeira, 80 quilómetros a sul. Este ataque terá sido maior do que o do início do mês.

Israel não costuma comentar ataques específicos – e a resposta às questões dos jornais israelitas esta terça-feira não passou de um “não comentamos” – mas admite que lançou centenas desde a revolta popular de 2011 a que Assad respondeu com uma brutal repressão e que rapidamente de transformou numa guerra caótica. A operação mais sangrenta aconteceu em Janeiro deste ano e fez 57 mortos entre soldados sírios leais ao regime e forças aliadas (iranianas, com grande probabilidade), no Leste do país.

Os ataques parecem ter-se intensificado recentemente. Ainda no final de Outubro, cinco combatentes ligados a grupos iranianos foram mortos em raides contra várias posições nos arredores de Damasco, enquanto pouco depois nove combatentes pró-iranianos morreriam num ataque israelita nos subúrbios de Homs, a cidade do centro da Síria que antes da guerra era a terceira maior do país, que foi “capital da revolução” antes de estar cercada e debaixo de bombardeamentos durante quase dois anos, transformando-se no cenário de um terramoto devastador.

Também em Novembro, três soldados e dois combatentes sírios ligados à milícia xiita libanesa (apoiada pelo Irão e próxima de Assad) Hezbollah foram mortos em raides israelitas, segundo informações do Observatório dos Direitos Humanos, organização com sede no Reino Unido, mas que conta com uma rede de médicos e activistas no terreno.

Israel e a Síria estão oficialmente em guerra – no domingo, o Governo israelita anunciou um plano para duplicar o número de 23 mil colonos que vivem nos Montes Golã, a região disputada com a Síria, conquistada na guerra de 1967 e anexada em 1981 – mas o verdadeiro alvo israelita da última década dentro do território sírio tem sido o Irão.

Para além da ajuda militar e diplomática (travando resoluções no Conselho de Segurança da ONU, por exemplo) da Rússia, Assad tem contado com apoio permanente do Irão: a colaboração iraniana tem sido ainda mais fundamental e o nível de dependência é tal que muitos analistas sustentam que o líder sírio não conseguiria obrigar os iranianos a saírem do país mesmo que quisesse, sendo quase impossível, em alguns casos, destrinçar as forças sírias das iranianas (presentes em muitas unidades). É por saber disso que Israel ataca com tanta frequência.

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