Dezenas de mulheres protestam em Cabul pela perda de direitos com os taliban

Manifestação chega numa altura em que o Ministério para a Promoção da Virtude proibiu as mulheres de viajar sozinhas mais de 72 km e de entrarem num carro de rosto destapado.

"Os taliban querem eliminar as mulheres" Reuters

Dezenas de mulheres participaram esta terça-feira em Cabul, capital do Afeganistão, num protesto contra as medidas “discriminatórias” aprovadas pelos taliban desde que chegaram ao poder em Agosto, incluindo a mais recente proibição de as mulheres viajarem sozinhas ao longo de mais de 72 km.

A manifestação percorreu as ruas da capital afegã com as palavras de ordem “Liberdade, trabalho e comida”, de acordo com os vídeos que circulam nas redes sociais e que foram partilhados por media locais.

Uma das manifestantes denunciou, em declarações recolhidas pela agência de notícias russa Sputnik, que os taliban recorreram a disparos para acabar com o protesto, não havendo informação sobre se alguma manifestante foi detida ou ferida. As mulheres que participam neste tipo de acções de rua correm grandes riscos, de serem espancadas, detidas ou até mesmo mortas.

Houve, isso sim, a detenção temporária de um grupo de jornalistas, a quem foram confiscados os equipamentos, devolvidos depois de as imagens do protesto terem sido apagadas.

A marcha acontece uns dias depois das autoridades afegãs terem decretado mais restrições à circulação das mulheres no país, proibindo que viajem sozinhas além de 72 km se não estiverem acompanhados por um familiar directo do sexo masculino. Além disso, todos os proprietários de veículos foram avisados para não deixarem entrar nenhuma mulher de rosto descoberto.

O Ministério para a Promoção da Virtude e a Prevenção do Vício, que substituiu o Ministério da Mulher depois de os taliban chegarem ao poder, também proibiu a reprodução de música nos automóveis.

“Quero dizer ao mundo, dizer aos taliban que parem de matar. Queremos liberdade, queremos justiça, queremos direitos humanos”, disse Nayera Koahistani, uma das manifestantes, em declarações à AFP. “Os direitos das mulheres são direitos humanos. Temos de defender os nossos direitos”, acrescentou.

A manifestação foi convocada também para denunciar os assassínios na sombra de ex-soldados do antigo exército afegão. No comunicado lido em voz alta por Laila Basam, as mulheres pediram aos taliban que “parem a sua máquina de matar” que viola a amnistia geral anunciada pela nova liderança do Afeganistão em Agosto.

As manifestantes também pediram mais trabalho para as mulheres, assumindo-se como porta-vozes dos afegãos e afegãs famélicos, num país que atravessa uma grave crise económica, ameaçado pela fome, depois de dois anos de seca e o fim das ajudas internacionais com o regresso dos taliban ao poder.

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