Mais dois memoriais de Tiananmen retirados de Universidades de Hong Kong

Monumentos eram das últimas obras públicas alusivas ao massacre de 1989 no território.

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Estudantes protestaram contra a retirada da estátua "Deusa da Democracia" na Universidade Chinesa de Hong Kong TYRONE SIU/Reuters

Mais duas universidades de Hong Kong retiraram monumentos públicos assinalando os protestos da praça Tiananmen, em Pequim, depois de na véspera ter sido desmantelada a primeira estátua sob o pretexto da sua “fragilidade” trazer “potenciais questões de segurança”. Estes eram dos últimos monumentos públicos de homenagem aos estudantes que desafiaram o Partido Comunista Chinês e que foram brutalmente reprimidos pelo regime no dia 4 de Junho de 1989.

Hong Kong era o único local da China em que era tolerado que se assinalasse em público o aniversário do massacre de Tiananmen (no resto do país a data é objecto de censura redobrada para assegurar que se mantém esquecida), com manifestações públicas anuais em honra das centenas de manifestantes pró-democracia mortos pelas tropas chinesas (o número oficial de vítimas nunca foi revelado, activistas acreditam que eram centenas, se não milhares). As manifestações foram entretanto suspensas com o pretexto da pandemia e assinalar a data foi efectivamente ilegalizado.

Mais uma vez mesmo antes de amanhecer, as autoridades removeram uma estátua de bronze de 6,4 metros representando a “Deusa da Democracia” de uma praça pública da Universidade Chinesa. A Universidade declarou que a “estátua não autorizada” foi removida depois de uma “avaliação interna”.

Também na mesma altura, a Universidade de Lingnam retirou um relevo numa parede que retratava a Deusa da Democracia e ainda o Homem do Tanque, como ficou conhecido o manifestante solitário em frente a uma coluna de carros de combate na praça, e ainda vítimas das tropas chinesas.

A Reuters pediu um comentário ao governo de Carrie Lam sobre se havia ordens para remover os memoriais, mas não obteve resposta.

O escultor das duas obras, Chen Weiming, disse que planeava uma acção judicial se a remoção tiver causado danos.

Estudantes protestam contra retirada de monumentos

Na Universidade de Lingnam, alguns estudantes protestaram contra a retirada colando papéis com a palavra “vergonha” na imagem retirada, mas seguranças removeram os papéis com rapidez.

Na Universidade Chinesa, houve também protestos, com grupos de estudantes a distribuir panfletos alusivos a Tiananmen e à estátua da democracia: “Viram-na?” ou “Tragam-na de volta”.

Outros deixaram crisântemos, símbolo tradicional chinês de luto, e deixaram velas no local.

A primeira estátua a ser retirada foi o “Pilar da Vergonha”, representação de corpos humanos empilhados em oito metros de bronze, do escultor dinamarquês Jens Galschiot, a 23 de Dezembro, também de madrugada.

“Usaram esta acção desprezível numa tentativa de apagar esse capítulo sangrento da história”, disse Wang Dang, um dos líderes estudantis dos protestos de Tiananmen que foi preso na sequência das manifestações, e agora vive nos Estados Unidos, numa publicação no Facebook citada pelo Guardian.

A criação da estátua em 1997 “foi um marco para a liberdade em Hong Kong; a sua destruição em 2021 é uma pedra lapidar para a liberdade em Hong Kong”, reagiu o activista pró-democracia Samuel Chu, presidente do grupo Campaign for Hong Kong, citado também no diário britânico.

Isto acontece numa altura em que as habituais vigílias de homenagem às vítimas de Tiananmen estão proibidas – por causa da pandemia, segundo o governo de Carrie Lam – e em que há vários líderes estudantis e pró-democracia presos e condenados por terem organizado e promovido essas mesmas vigílias no ano passado.

A situação está marcada pela entrada em vigor da controversa lei de segurança nacional, que a oposição diz ser uma ferramenta para criminalizar a dissidência. As eleições que se realizaram no passado domingo praticamente só tiveram candidaturas pró-Pequim, com grande parte da oposição presa ou no exílio. Apesar dos esforços do governo para mobilizar os eleitores, a participação foi a mais baixa de sempre – apenas 30,2%.

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