Madeira: Projecto de teleférico gera protestos e dúvidas

Iniciativa privada propõe investir 35 milhões de euros em parque de aventuras no Curral das Freiras. Oposição critica avanços no projecto, sem ser conhecido os impactos ambientais.

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Teleférico liga ao Curral das Freiras Andreia Gomes Carvalho

É uma ideia antiga, mas está longe de ser consensual. O projecto para a instalação de um teleférico no Curral das Freiras, uma freguesia rural de Câmara de Lobos, na Madeira, motivou esta semana uma manifestação à porta da Quinta Vigia, sede da presidência do governo madeirense.

Trata-se de uma iniciativa privada que promete criar 50 postos de trabalhos e investir 35 milhões de euros, num parque de aventuras, com uma zona de escalada, pontes suspensas, slides, rapel, um zip line com 2,3 quilómetros de comprimento e duas linhas de teleférico: uma com ligação ao centro do Curral das Freiras e outra a ‘sobrevoar’ a vila.

O equipamento, com uma única cabina com capacidade para 50 pessoas (um por cada linha), é a face mais visível do projecto, e aquele que levanta mais dúvidas. Na manifestação, que depois seguiu para junto da Assembleia Legislativa da Madeira, foram poucas as pessoas, cerca de uma dezena, mas com muitas questões: “Como será financiado?”, “Quanto vai custar ao orçamento regional?”, “Onde está o Estudo de Impacte Ambiental?”.

Perguntas que já tinham sido levadas no início deste mês ao parlamento madeirense, durante a discussão do orçamento regional do próximo ano. Na altura, a bancada do Partido Socialista, questionou o governo sobre os procedimentos que estão a ser tomados, pois mesmo não sendo conhecido o Estudo de Impacte Ambiental (EIA), o executivo PSD/CDS emitiu já a declaração de utilidade pública da expropriação dos terrenos necessários à execução da obra “Construção do Teleférico do Paredão”. A deputada socialista Elisa Seixas estranha este calendário, em que o governo madeirense já reservou 370 mil euros para dar início ao processo de expropriações, mas ainda não divulgou o EIA. Ou, disse no parlamento, o governo já está na posse desse estudo e não o revela, o que mostra falta de transparência, ou está a avançar para um projecto sem aferir a sua viabilidade, o que é grave.

A resposta veio esta semana. Manuel António Filipe, presidente do Instituto de Conservação da Natureza (ICN), crítica o “papel da oposição” em matérias ambientais. Num artigo de opinião publicado no JM-Madeira, garante que o EIA será feito e colocado em discussão pública. “Não percebo e não compreendo, como pretendem no caso do teleférico do Curral das Freiras começar por um Estudo de Impacte Ambiental sem antes ter o respectivo projecto”, escreve, argumentando que os EIA não são realizados sobre intenções de investimento ou sobre pressupostos. “São realizados sobre projectos específicos e sobre intenções bem explanadas em projectos. Aliás o EIA é obrigatório como já foi publicamente anunciado.”

O Curral das Freiras é uma pequena freguesia situada num vale profundo, com uma população próxima das duas mil pessoas. O único acesso ao centro é feito através de um túnel com quase 2,5 quilómetros. No Inverno, com mau tempo, não é raro o acesso ficar condicionado devido à queda de pedras, daí que uma antiga reivindicação da vila seja a construção de uma ligação alternativa.

Esta segunda via, que passava pela construção de mais um túnel, tem sido prometida pelos sucessivos governos regionais, mas os estudos de viabilidade ainda não avançaram. Também o teleférico é tema recorrente na freguesia. Desde o início dos anos 1990 que é falado, mas só agora é que são dados passos mais significativos.

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