Suíça extradita para os EUA especialista em tecnologia com ligações ao Kremlin

Vladislav Klyushin fornece um sistema de monitorização de redes sociais ao Governo russo, e um dos seus funcionários foi acusado, nos EUA, de interferir na eleição presidencial de 2016. Suíça já tinha recusado a extradição do empresário para a Rússia.

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A empresa de Vladislav Klyushin fornece um sistema de monitorização de redes sociais ao Governo russo EPA/YURI KOCHETKOV

As autoridades suíças extraditaram para os Estados Unidos o empresário russo Vladislav Klyushin, o fundador de uma empresa que vendeu ao Kremlin um sistema de monitorização de redes sociais, e que foi acusado de piratear empresas norte-americanas para ganhar dezenas de milhões de dólares com informação confidencial.

Numa reacção à agência russa TASS, este domingo, um porta-voz da embaixada da Rússia em Berna, Vladimir Khokhlov, disse que a extradição de Klyushin “é mais um episódio da caça de Washington a cidadãos russos em países terceiros”.

Ouvido pela agência Reuters, o advogado do empresário russo, Oliver Ciric, acusou os EUA de terem criado um pretexto para a extradição do seu cliente. Ciric afirma que o verdadeiro interesse do Departamento de Justiça norte-americano em Klyushin é a ligação do empresário ao Kremlin — o que, segundo o advogado, torna todo o processo de detenção e extradição num assunto político.

A empresa de Klyushin, a M13, é especializada em cibersegurança e monitorização de redes sociais, e tem vários contratos com agências do Governo russo. Segundo a agência de notícias Bloomberg, os contratos da M13 incluem o fornecimento do sistema Katyusha — de monitorização de redes sociais — ao Ministério da Defesa e a outros serviços da Guarda Nacional, do Gabinete do Procurador-Geral, do Ministério da Justiça e do governo da cidade de Moscovo.

Eleições de 2016

Em declarações ao site da Newsweek, este domingo, o advogado de Klyushin antecipou que o seu cliente vai ser acusado, nos EUA, de liderar uma operação secreta para influenciar o resultado da eleição presidencial norte-americana de 2016. Ciric anunciou que vai recorrer da extradição para o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, e acusou a justiça suíça de agir “sem levar em conta o argumento de perseguição política”.

Vladislav Klyushin foi detido em Sion, em Março, a pedido dos EUA, durante uma estadia em família numa estância de esqui. O pedido de extradição para os EUA deu entrada em Abril, dias depois de as autoridades russas terem pedido a extradição do empresário para a Rússia — o que viria a ser negado pela Suíça.

Um dos funcionários da empresa de Klyushin, Ivan Yermakov, é um dos 12 russos que foram acusados pelo Departamento de Justiça norte-americano, em 2018, de vários crimes de pirataria informática e interferência na eleição presidencial de 2016 nos EUA. Yermakov é também um dos acusados no processo que levou à detenção de Klyushin na Suíça.

Segundo a agência Bloomberg, o empresário russo tem “muita informação” sobre a operação de interferência russa na eleição de 2016 nos EUA, e a sua extradição pode vir a revelar-se um trunfo para a Administração Biden no relacionamento com o Kremlin.

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