Avó, filha e netas: gang feminino retoma carreira depois de sair da cadeia. Foram apanhadas outra vez

Bem vestidas e penteadas com esmero, carteiristas não levantavam suspeitas quando se aproximavam das vítimas. Foram apelidadas pela PSP como “Manitas de Plata”, tal a sua perícia. Matriarca que lidera bando tem 70 anos. Algumas delas sairam da cadeia ao abrigo do perdão dado aos reclusos ao abrigo da pandemia.

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A atenção das autoridades foi despertada pelo facto de “estarem a aumentar a nível nacional os furtos de carteira em supermercados, centros comerciais e outras lojas"

Um grupo de carteiristas de origem colombiana composto por avó, filha e netas retomou uma frutuosa carreira dedicada ao crime depois de terem sido condenadas pela justiça em 2017. Agora foram apanhadas outra vez.

Hoje septuagenária, a matriarca que lidera o gang, e mora num condomínio no concelho de Palmela com o marido, alugou um cofre no banco para esconder gargantilhas, anéis e outras peças em ouro e jóias no valor de mais de 46 mil euros da primeira vez que atraiu a atenção das autoridades. Na altura dedicava-se, com as descendentes - uma filha, três netas e ainda uma sobrinha –, ao chamado segmento de luxo. Na sua residência e nos apartamentos das suas familiares, também situados na Margem Sul, foi descoberta uma impressionante quantidade de malas e carteiras Louis Vuitton, Dior, Gucci, Burberry, Moschino, Guess e Carolina Herrera, entre outras marcas.

Atacavam mulheres de meia-idade ou idosas que passeavam nos centros comerciais. Observavam-nas a usar o código dos cartões na máquina multibanco e seguiam-nas até lhes aparecer uma oportunidade para se aproximarem o suficiente, fosse enquanto pagavam as compras numa loja, fosse na porta giratória de um espaço comercial. Bem vestidas e penteadas com esmero, não levantavam suspeitas quando se aproximavam das vítimas. Como que por artes mágicas, recheadas carteiras de pele e os cartões de pagamento que lá moravam dentro passavam das malas das legítimas proprietárias para as mãos delas.

Para facilitar o desaparecimento das ladras no meio da multidão, enquanto umas fugiam outras metiam conversa com as vítimas, que assim demoravam mais tempo a aperceber-se do furto. No jargão policial quem fica para trás para encobrir os cúmplices está a “dar-se à morte”.

Chapa ganha, chapa gasta: na posse dos códigos dos cartões, que tinham conseguido vigiando as vítimas enquanto levantavam dinheiro, frequentavam casinos e compravam perfumes caros, gadgets tecnológicos e o que mais lhes aprouvesse. Uma fonte policial dizia que eram viciadas em compras.

A PSP, que investigou o caso, apelidou-as de Manitas de Plata, em homenagem a um guitarrista de origem cigana que se tornou uma celebridade mundial. Em Abril de 2017 pensou-se que a justiça portuguesa tinha posto fim à sua carreira, ao decretar penas de prisão efectiva para três das mulheres e penas suspensas para as restantes. Mas afinal não. Depois de terem sido soltas - umas em liberdade precária, outras graças ao regime de clemência motivado pela pandemia -, regressaram à acção, agora já com mais membros da família.

Pelo menos desde há um ano que o bando chefiado pela matriarca voltou a actuar em todo o país, como no passado, ao ponto de a atenção da polícia ter sido despertada por “estarem a aumentar a nível nacional os furtos de carteira em supermercados, centros comerciais e outras lojas, de todos eles associados a levantamentos de dinheiro e pagamentos feitos com os cartões bancários provenientes desses furtos”.

Foi precisamente com um furto num supermercado no concelho da Amadora que se iniciaram as novas investigações. A PSP reuniu informação ao longo do último ano que permite ligar o bando – do qual fazia ainda parte um filho da matriarca - a 30 furtos de carteiras e 13 burlas informáticas relacionadas com levantamentos de dinheiro e pagamentos com os cartões furtados. O valor do prejuízo total causado às vítimas ronda os 21.500 euros

Na passada segunda-feira a polícia montou uma operação a que desta vez chamou Feliz Navidad, tendo assistido ao momento em que três das mulheres faziam sua a carteira de uma idosa, no interior de um estabelecimento comercial. Depois levantaram 400 euros (200 de cada vez) numa máquina ATM, fugindo do local de carro. A líder, Myriam Muñoz, também seguia na viatura.

“Acabaram por ser detidas, em segurança, já na zona da Costa da Caparica”, descreve a PSP. “No momento da detenção foram apreendidos o telemóvel e o cartão bancário furtados momentos antes, bem como todo o dinheiro proveniente do furto e dos levantamentos bancários. Foi ainda possível recuperar a carteira da idosa deitada fora pelas carteiristas logo após o furto”, descreve também a mesma nota de imprensa.

Depois disso dois outros cúmplices foram igualmente detidos. A quatro deles, septuagenária incluída, foi decretada prisão preventiva. A Divisão de Investigação Criminal da PSP de Lisboa vai continuar a trabalhar neste caso, uma vez que o apuramento de responsabilidades não terminou.

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