Centeno não vê risco de viragem de política no BCE

Governador do Banco de Portugal não antecipa cenário de agravamento das condições de financiamento da economia portuguesa por causa de eventuais mudanças na política do BCE

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Mário Centeno, governador do Banco de Portugal LUSA/MÁRIO CRUZ

As decisões tomadas pelo Banco Central Europeu (BCE) na sua última reunião representam uma continuidade de política, estão em linha com o que estava planeado e não vão conduzir a um agravamento dos custos de financiamento de Portugal, defendeu, esta sexta-feira, Mário Centeno.

O governador do Banco de Portugal, a responder às questões dos jornalistas na apresentação das novas previsões para a economia portuguesa, defendeu que a decisão do BCE de prolongar as compras de dívida pública dos países da zona euro, embora abrandando o ritmo a que o faz já a partir do primeiro trimestre de 2022, “foi uma decisão na continuidade das anteriores” e “traz boas notícias”.

Mário Centeno não mostra portanto receio de que, perante a revisão em alta das previsões para a taxa de inflação na zona euro feita pelo BCE – que para 2022 passaram para 3,2% quando antes eram de 1,7% –, se venha a assistir a uma retirada mais rápida do que o previsto dos estímulos dados à economia pela autoridade monetária europeia, que pudesse conduzir a que o Estado, as empresas e as famílias portuguesas tivessem de pagar juros mais elevados pelos empréstimos contraídos.

No boletim económico de Dezembro publicado esta sexta-feira – onde revê em alta as previsões de crescimento económico em Portugal para 2022 e 2023 – o Banco de Portugal praticamente não altera, face a às previsões de Junho, os pressupostos que assume para o nível das taxas de juro da dívida pública portuguesa e para a Euribor a três meses, mantendo-os, até 2024, muito próximos dos seus actuais valores mínimos.

Nos Estados Unidos, a Fed prepara-se para, já no próximo ano, para proceder a aumentos nas suas taxas de juro de referência, enquanto no Reino Unido, esse movimento foi iniciado já nesta quinta-feira. Do lado europeu, Christine Lagarde disse que uma subida de taxas de juro do BCE em 2022 é um cenário “muito improvável”, mas não fechou a porta a essa possibilidade, defendendo que o banco central tem de ter a flexibilidade para responder à evolução dos indicadores económicos.

Para a inflação portuguesa, a entidade liderada por Mário Centeno também reviu em alta as suas previsões para os próximos anos. Depois de, em 2021, ficar nos 0,9%, a inflação deverá subir para 1,8% em 2022, acima dos 0,9% previstos em Junho, mas ainda assim abaixo da média da zona euro.

Ainda assim, Mário Centeno alertou para o risco de esta subida de preços, que se deve essencialmente a factores temporários como o aumento dos custos energéticos e as perturbações nas cadeias de distribuição internacionais, se poder tornar mais persistente se, por exemplo, começarem a ser operados aumentos salariais – que aumentam a procura e conduzem por sua vez a uma maior pressão sobre os preços.

Em particular, o relatório do Banco de Portugal refere que “eventuais aumentos do salário mínimo em 2023-24 constituem também um risco em alta para a inflação”.

Na conferência de imprensa, Mário Centeno defendeu que ainda não se verificam efeitos sobre os salários que possam fazer subir de forma mais permanente a inflação, mas reconheceu que, na análise desta questão, os salários são “sempre uma fonte de preocupação na dinâmica que podem incutir aos preços”. “Como é função de um banco central temos de alertar para as diversas fontes de crescimento da inflação”, disse.

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