Banco de Portugal está ainda mais confiante na “recuperação mais rápida das últimas crises”

Previsão de crescimento para o próximo ano foi revista em alta para 5,8%, num cenário em que a conjuntura internacional, o PRR e a acumulação de poupança durante a crise ajudam a um regresso relativamente rápido do PIB aos níveis pré-pandemia.

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LUSA/MÁRIO CRUZ

Confiante na melhoria da conjuntura externa, na manutenção de taxas de juro baixas para Portugal e no efeito positivo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o Banco de Portugal (BdP) reviu esta sexta-feira em alta as suas previsões de crescimento para a economia portuguesa durante os próximos anos. A economia vai chegar aos níveis pré-pandemia já na primeira metade de 2022, confirmando uma retoma mais rápida do que a ocorreu em crises anteriores.

No boletim económico de Dezembro agora publicado, a entidade liderada por Mário Centeno mantém a estimativa de crescimento para este ano que já vem apresentando desde o passado mês de Junho. Depois da queda recorde de 8,4% em 2020, a economia portuguesa deverá crescer 4,8% este ano. Mas para os anos seguintes, o banco central passou agora a estar mais optimista do que estava há seis meses.

Em 2022, a variação esperada para o PIB é agora de 5,8%, uma aceleração do ritmo de crescimento da economia que é ligeiramente maior do que a antecipada em Junho, quando o Banco de Portugal apontava para um aumento do PIB de 5,6%. Para 2023, a revisão em alta foi ainda mais significativa, com a variação projectada do PIB a passar de 2,4% em Junho para 3,1% agora. Para 2024, a previsão de crescimento, já numa fase mais avançada de regresso à normalidade, situa-se em 2%.

Com estes números, a economia portuguesa consegue, assinala o banco central, “retomar o nível pré-pandemia na primeira metade de 2022”. Ainda assim, se a actividade económica for comparada com a tendência projectada antes da ocorrência da pandemia, é possível notar que o PIB estará, em 2024, ainda 2% abaixo daquilo que antes era esperado, um impacto a médio prazo da pandemia que é, ainda assim, “menor do que nas recessões económicas anteriores”, destaca o relatório do Banco de Portugal.

O ritmo mais alto esperado para a actividade económica tem também influência nas previsões para o mercado de trabalho, que são agora, comparando com as realizadas em Junho, bastante mais positivas. Para este ano, a taxa de desemprego estimada é de 6,6%, em vez dos 7,2% previstos em Junho, regressando-se assim ao nível de 2019. E para 2022 antecipa-se uma nova descida para 6%, bastante menos que os 7,1% de Junho.

Investimento e exportações aceleram

Se, durante o ano de 2021, foi a forte recuperação do consumo privado que sustentou a maior parte do ritmo de crescimento da economia, o Banco de Portugal aposta que, a partir de 2022, as exportações e o investimento venham a ganhar um maior protagonismo. No próximo ano, as taxas de crescimento previstas para estes dois indicadores são de 12,7% e 7,2%, respectivamente.

Contribui para esta previsão a confiança do Banco de Portugal em dois desenvolvimentos cruciais para a economia nacional. Por um lado, espera-se que, depois de um ligeiro abrandamento no final deste ano e início do próximo trazido pelo ressurgimento da pandemia, se assista a uma aceleração da economia internacional, em particular na Europa, algo que permitirá colocar a procura externa dirigida à economia portuguesa ao nível pré-pandémico durante o ano de 2022, acelerando a retoma das exportações.

Depois, existe também a expectativa de uma execução eficaz do Plano de Recuperação e Resiliência, algo que poderá contribuir de forma decisiva para o crescimento do investimento, nomeadamente o público.

Outro pressuposto importante, especialmente para a evolução do consumo privado e do investimento, está na forma como se antecipa que evoluam as condições de financiamento do país. Apesar de o BCE estar a ser pressionado a retirar alguns dos seus estímulos em face de um aumento da inflação, o Banco de Portugal continua a assumir a manutenção de condições de financiamento favoráveis, quer para o Estado, quer para as empresas e famílias.

Isto contribui para que o consumo privado, depois do forte crescimento de 5% este ano, continue a um ritmo elevado de 4,8% em 2022, complementando o efeito positivo que é esperado pela utilização pelas famílias portuguesas da poupança acumulada durante a pandemia.

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