A desinformação sobre perturbação de hiperactividade e défice de atenção

Esta perturbação é reconhecida pelos profissionais de saúde e por alguns docentes, no entanto não é familiarizada na nossa população em geral, fazendo com que ainda exista alguma falta de compreensão e rótulos associados.

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Segundo o Manual de Diagnóstico de Perturbações Mentais (DSM-5), a perturbação de hiperactividade e défice de atenção, também conhecido por PHDA, consiste numa perturbação do neurodesenvolvimento caracterizada por um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade. Surge durante a infância e pode permanecer durante a vida adulta, influenciando o funcionamento social, escolar e profissional.

Existem vários subtipos: I) combinado: onde existe a desatenção e a hiperactividade/impulsividade; II) predominantemente desatento: onde ocorre apenas a desatenção; iii) predominantemente hiperactiva/impulsiva: a hiperactividade e a impulsividade são dominantes. Quanto à sua gravidade, pode ser leve, moderada ou grave, dependendo da influência desta condição na vida do indivíduo.

Nesta perturbação pode existir a incapacidade do indivíduo (em especial, da criança) em manter-se sentada, quieta, concentrada e calada, a dificuldade em terminar tarefas, de cumprir prazos, de aguardar numa fila e irritabilidade. Podem ainda ocorrer actos impulsivos como responder prontamente a uma questão sem que esta tenha terminado ou atravessar uma rua sem olhar para os carros.

Esta perturbação é reconhecida pelos profissionais de saúde e por alguns docentes, no entanto não é familiarizada na nossa população em geral, fazendo com que ainda exista alguma falta de compreensão e rótulos associados. Não são raras as vezes em que se ouvem comentários do género: “ele não tem nada, é só irrequieto porque é mal-educado”, “é hiperactivo e não consegue realizar os trabalhos porque não quer” ou “não teve educação em casa”, sendo comentários completamente falaciosos.

Entre os factores de risco desta perturbação, pode-se mencionar os factores ambientais, como o baixo peso durante o nascimento ou o consumo de substâncias durante a gravidez, e os factores genéticos, sabendo que esta pode ser transmitida pelas gerações seguintes. É de ressalvar que os padrões familiares e os modelos parentais não provocam a perturbação de hiperactividade e défice de atenção.

O diagnóstico é realizado através dos profissionais de saúde (psicólogo, neuropediatra, pedopsiquiatra, entre outros). A intervenção é sempre possível, seja pela intervenção farmacológica, psicoterapêutica e/ou psicoeducativa. Estas duas últimas intervenções têm como objectivo reformular as estratégias de adaptação e reajustamento, promoção de competências socioemocionais e psicoeducação.

Esta perturbação em nada se deve ao facto da criança ser “mal-educada”, “respondona” ou de ter “falta de amor pela família”. Esta condição é tão real como uma condição física. A diferença é que esta não é visível e nem todos a compreendem no seu todo, resultando numa lacuna que influencia toda a esfera envolvente. Exige compreensão e respeito, quer pela criança/adulto, quer pela sua família.

Se uma doença física e crónica não surge nem é rotulada devido à má-educação ou a um determinado modelo parental, por que motivo a perturbação de hiperactividade e défice de atenção é ainda abordada nesses termos?

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