A noite do homem que mudou a NBA

Stephen Curry tornou-se na última madrugada o recordista de lançamentos de três pontos. O momento, no icónico Madison Square Garden, em Nova Iorque, teve a pompa que deveria ter.

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Reuters/Trevor Ruszkowski

Nesta terça-feira, Stephen Curry tornou-se o melhor lançador da história do basquetebol. Já o era para muitos, mas assume o estatuto, agora, com base factual. Aos 33 anos, tornou-se o jogador com mais lançamentos de três pontos concretizados na história (2974), bateu o recorde de Ray Allen, outra lenda, e fê-lo em… menos 511 jogos do que o anterior recordista.

Tudo se passou em pleno Madison Square Garden, em Nova Iorque – até o palco foi “escolhido” com a grandiosidade que o momento merecia. Curry entrou para o jogo New York Knicks-Golden State Warriors a precisar de um triplo para igualar Allen e dois para bater o recorde. Com 62 segundos de jogo, Allen estava igualado. Com 4m26s, estava batido. Aí, houve NBA no seu melhor.

O jogo parou, os fotógrafos puderam entrar em campo, como se se tratasse do final do jogo 7 das finais da NBA. Curry foi abraçado por cada um dos colegas, pegou na bola de jogo e foi entregá-la ao pai.

Ray Allen estava no pavilhão para passar o testemunho e desceu ao campo para abraçar Curry. Tudo foi grandioso, como deveria ser, e a NBA voltou a provar que está num patamar à parte no que diz respeito a fazer um bom espectáculo e imortalizar as suas lendas.

Ninguém queria, naquele momento, que o jogo continuasse logo, como continuaria a meio de um recorde de Messi ou Ronaldo numa partida de futebol. Adeptos no pavilhão ou em casa queriam celebrar Curry, vê-lo chorar, agradecer e receber o testemunho de Allen na forma de abraço. Depois, sim, logo haveria um Knicks-Warriors para terminar.

Por falar em Knicks… O experiente Alec Burks também terá direito a um pedaço de história, já que era ele o defensor de Curry no momento do triplo do recorde. “Ficou na foto” desse lançamento e vai ficar sempre.

Mudou o jogo

Há quem diga que Stephen Curry estragou a NBA e quem defenda que lhe deu nova vida. As duas crenças são defensáveis, mas a única coisa certa é que o jogador mudou o jogo. O basquetebol não é, na NBA, o que era antes de Curry existir e esse é um legado que vai manter-se para sempre.

Na primeira temporada em que se começou a jogar com triplos havia em média três tentativas por jogo e nenhuma convertida. Em 2009-10, ano de rookie de Stephen Curry, já se lançava em média 18 vezes, seis delas com sucesso. Quando Curry se sagrou campeão, em 2014-15, já se viam 22 lançamentos, oito deles convertidos. Em 2021-22, ano em que Curry se tornou o melhor lançador de sempre, o valor está numas tremendas 35 tentativas, 12 delas com sucesso.

Porquê estes dados? Para mostrar o quanto este jogador mudou o jogo de basquetebol.

Na transmissão da SportTV, o comentador Ricardo Brito Reis abordou o “duelo” entre quem diz que Curry estragou o jogo e quem defende que lhe deu nova vida. “Dizem que Curry estragou o jogo, mas quem estraga é quem tenta imitá-lo sem ter capacidade de o fazer”, apontou. Esta premissa bastante feliz define aquilo que Curry fez na NBA.

O jogador “inventou” os lançamentos de longa distância, por vezes uns meros centímetros à frente do meio-campo. Inventou também os contra-ataques em que um jogador lança de três pontos em vez de ir finalizar com uma mais simples bandeja na passada ou um afundanço. Inventou ainda o jogo em que lançar de três pontos não tem necessariamente uma percentagem menor de sucesso – e, por extensão, tornou obsoletos os lançamentos de dois pontos mais longe do cesto. Foi, com Klay Thompson, outro atirador de alto nível, metade da parelha que ficou conhecida por Splash Brothers.

Curry inventou tudo isto e mudou, de facto, um jogo em que agora se lança triplos sem qualquer pudor por vezes sem nexo, algo que justifica que haja quem diga que Curry estragou o jogo.

Estragou? Como definido na SportTV, talvez estrague é quem tente lançar como Curry sem estar habilitado para tal. E isso pouco ou nada tem que ver com Curry, mas com a inabilidade de perceber que o que ali está é uma espécie única.

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