César Boaventura: as polémicas e casos judiciais do agente detido na Operação Malapata

PJ fez três detenções esta quarta-feira, com as buscas a chegarem aos estádios de Benfica e Sporting. Em causa estão suspeitas de fraude fiscal, burla qualificada, falsificação informática e branqueamento.

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César Boaventura, o agente desportivo detido esta quarta-feira Facebook

Depois de dois campeonatos nacionais conquistados ao leme das “águias” (e um terceiro perdido para o FC Porto em 2017-18), a saída de Rui Vitória da Luz começava a ser discutida. O treinador acabaria por abandonar o clube apenas em Janeiro de 2019, mas, no final de 2017, o ex-presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, já tinha mandatado um agente desportivo, César Boaventura, para vender o técnico dos “encarnados” ao Everton. Ao telefone, Vieira pedia máxima discrição a Boaventura, que não era empresário de Rui Vitória: “Mas calas-te muito bem calado, que eu não sei nada disso, atenção. [O Benfica] não sabe de nada.”

A veracidade da conversa foi confirmada pelo próprio César Boaventura, dias após ter sido publicado um excerto do telefonema no Youtube, em Outubro de 2018. Na altura, em entrevista à SIC Notícias, garantiu não ter sido ele a gravar a chamada telefónica, naquele que foi um dos momentos de maior mediatismo conseguidos por César Boaventura.

O agente foi um dos três detidos esta quarta-feira no âmbito da Operação Malapata, uma investigação sobre suspeitas da prática de crimes de fraude fiscal, burla qualificada, falsificação informática e branqueamento. Esta quarta-feira, as buscas da Polícia Judiciária (PJ) estenderam-se ainda ao Estádio da Luz e Alvalade, com ambos os clubes a demarcarem-se dos assuntos sob investigação.

O nome do agente desportivo voltaria a ser tema de conversa no futebol por diversas vezes nos últimos três anos, mas sempre pelos piores motivos. Ainda em 2016, César Boaventura apresentava-se numa entrevista do Notícias ao Minuto como director-executivo da GIC Career Management, uma empresa de agenciamento de jogadores. A transferência mais sonante do agente seria a de Mika, ex-guarda redes do Boavista, para os ingleses do Sunderland. O jogador rescindiria contrato com o clube britânico sem completar um único jogo pela equipa principal do clube.

Mesmo no Transfermarket, plataforma especializada em negócios de jogadores, a empresa de Boaventura aparece ligada a poucos jogadores (e um treinador), sem qualquer nome que se destaque pela carreira ou valor de mercado.

Já tinha sido alvo de buscas

César Boaventura também se viu envolvido em vários casos judiciais nos últimos três anos. Em 2018, Lionn e Cássio, dois jogadores que alinhavam pelo Rio Ave, acusaram César Boaventura em tribunal de uma tentativa de aliciamento. De acordo com defesa e guarda-redes, respectivamente, o agente terá oferecido uma quantia em dinheiro – Cássio falou em 250 mil euros – para perderem um jogo contra o Benfica. Boaventura negou sempre a acusação feita pelos jogadores, acusando-os de mentir. O caso não chegaria a ser julgado.

Em Novembro de 2020, César Boaventura já tinha sido alvo de buscas no âmbito da Operação Mala Ciao, onde também eram investigadas suspeitas de aliciamento e manipulação de resultados. Estas buscas chegaram também ao Estádio da Luz e à Académica de Coimbra.

O nome do agente esteve ainda ligado ao caso Cashball, com o próprio a dizer à Polícia Judiciária que teve influência no surgimento das denúncias que levaram à origem do processo. Existiam três arguidos nesta investigação, que envolvia um alegado esquema de manipulação de resultados no andebol e futebol. O ex-director geral do Sporting, André Geraldes, foi um dos arguidos. O Ministério Público considerou que a alegada manipulação não era mandatada pelos responsáveis “leoninos”, motivo pelo qual o Sporting foi ilibado no decorrer da investigação. Também André Gonçalves não seria acusado.

Acusação de Rui Pinto

Numa publicação no Twitter no dia 13 de Outubro, Rui Pinto, denunciante que colabora com as autoridades portuguesas em investigações relacionadas com o futebol, alega que Boaventura criou uma sociedade anónima offshore, a GIC Corporation SA, que terá transferido 50% dos direitos económicos do guarda-redes, operação feita alegadamente com conhecimento de Luís Filipe Vieira, para uma segunda empresa controlada a 100% por Boaventura, a Splendivdeta Unipessoal LDA, dissolvida e liquidada em Fevereiro de 2021.

Rui Pinto disse ainda que Boaventura esteve envolvido na celebração de contratos entre Benfica e Atlético CP.

Boaventura respondeu ao responsável pelo Football Leaks chamando-lhe “aldrabão e funcionário do crime”, negando qualquer ligação com a GIC Corporation SA. Esta quarta-feira, o denunciante voltou ao Twitter para relembrar a publicação feita em Outubro.

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