Um “metro de superfície” na área metropolitana do Algarve?

Muito mais que uma rede de transporte, o metro nesta zona promoveria a diversificação da especialização produtiva do Algarve e funcionaria como dinamizador de toda a região.

Foi referido na imprensa no passado mês que o Algarve poderia vir a ser contemplado com um “metro de superfície”, ao abrigo do reforço dos fundos comunitários, a ser implementado entre Olhão, Faro (aeroporto/universidade (Ualg)/zonas comerciais) e Loulé (via Estádio Algarve/zona comercial conexa). Numa região com povoamento algo disperso (tendencialmente junto ao litoral), que privilegia o transporte individual, a principal questão que sobreveio de imediato é a diminuta população diretamente servida: 150.000 habitantes.

Ora o que está em causa é muito mais que esta perspetiva, devendo refletir-se à volta de dois temas: a especialização produtiva regional e a criação de uma “miniárea metropolitana”.

Um claro problema do Algarve é a especialização produtiva excessivamente concentrada no turismo, apesar dos muitos planos apontarem desde sempre para a diversificação económica. Ora sabemos que o predomínio da atividade turística e os tipos de empregos que gera inviabilizam a atividade industrial e limitam em muito a agricultura, exceto a baseada em modelos intensivos ou semi-intensivos, que em regra recorrem a emigrantes.

Neste contexto, qual a melhor diversificação? Acreditamos que a resposta está nos serviços prestados a empresas e instituições, baseados em tecnologias e/ou com componente de inovação e desenvolvimento, à volta do modelo digital. Sabemos que muitas empresas internacionais têm vindo a instalar-se em Portugal, nomeadamente em Lisboa e Porto, beneficiando da disponibilidade de mão de obra qualificada e “barata”, qualidade de vida e infraestrutura tecnológica de bom nível. Este modelo, baseado em serviços avançados, tem potencial de crescimento, estando em curso a sua generalização a outras cidades do país. No Algarve, a Universidade deverá abrir em breve o seu polo tecnológico, que deverá albergar todo um conjunto de empresas de base tecnológica. É uma grande oportunidade de dinamizar este modelo, dando seguimento a várias empresas que já trabalham na região no desenvolvimento de software para o mercado global, nomeadamente aplicado a empresas turísticas.

Porém, este modelo, que carece da mistura talento nacional com a atração de nómadas digitais (a Universidade do Algarve é uma das instituições de ensino superior que mais estudantes internacionais atrai em termos relativos), precisa, mais do que tudo, duma área metropolitana que disponibilize: transporte fiável, rápido e disponível, de dia, e grande parte da noite; atividades culturais, entretenimento e lazer; assistência na saúde de bom nível; segurança e espaços urbanos dinâmicos e criativos; ambiente cuidado e sustentável. Residências de alojamento a preços compatíveis.

Uma miniárea metropolitana, formada a partir de concelhos à volta de Faro, Olhão e Loulé/Quarteira, permitiria constituir a massa critica que fizesse funcionar a lógica reconhecida às economias de aglomeração, indispensável à atração de investimento (que não apenas imobiliário-turístico). Os concelhos limítrofes farão naturalmente parte do planeamento e integração na área metropolitana. Esta perspetiva, permite ultrapassar a lógica de decisão política predominante na região, ou seja, a municipal, que não responde em termos de opções estratégicas de desenvolvimento regional prospetivo.

É por estes dois motivos que um “metro de superfície” nesta zona central do Algarve é muito mais que uma rede de transporte, assumindo o caráter estruturante do desenvolvimento duma economia de aglomeração que diversifique a especialização produtiva do Algarve e funcione como dinamizador da restante região. E não se esqueça que o Algarve é a região do país que mais distante se encontra das atuais áreas metropolitanas (Lisboa e Porto).

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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