Metro ocupa casas temporariamente e gera indignação na assembleia municipal de Lisboa

Moradores e comerciantes terão de sair das fracções logo no princípio do ano por um período que pode chegar às cinco semanas. Câmara de Lisboa diz que nada soube, deputados acusam empresa pública de insensibilidade e mau planeamento.

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Assinatura da consignação da primeira fase da obra LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

O Metro de Lisboa vai ocupar temporariamente 33 fracções na Madragoa e na Av. D. Carlos para fazer “uma análise aprofundada” às condições estruturais dos edifícios, obrigando moradores e comerciantes a sair durante um período máximo de cinco semanas. É por ali que vai passar a futura linha entre o Rato e o Cais do Sodré.

Avisados nos primeiros dias de Novembro, os afectados têm de deixar livres as fracções a 3 de Janeiro, logo depois da época festiva e no início da semana de contenção decretada pelo Governo. Classificando a situação como “desumana”, “inenarrável” e “kafkiana”, a Iniciativa Liberal agendou para esta terça-feira um debate de urgência na assembleia municipal.

E, com os votos a favor de todas as bancadas à excepção do PS (que votou contra), do Livre e dos Cidadãos Por Lisboa (que se abstiveram), este órgão aprovou um repúdio à actuação do metro e um pedido ao Governo para que suspenda e adie o processo.

“Desde 2019 que o metro sabia que podia ter de intervir. Só em vésperas de eleições autárquicas veio fazer prospecções técnicas. Estes dois anos perdidos teriam sido muito mais úteis para planear a melhor forma, ou a forma menos gravosa, de fazer estas obras”, declarou Miguel Ferreira da Silva, da IL. O partido esteve na semana passada com alguns dos afectados e o caso foi relatado pela revista Sábado.

Nesta segunda-feira à noite, o metro emitiu um comunicado em que tenta pôr alguma água na fervura, adiantando que três proprietários já assinaram um acordo com a empresa “e 20 já o aceitaram, aguardando-se a respectiva assinatura”. “As informações sobre as indemnizações a pagar foram já definidas e comunicadas aos proprietários. Até este momento o montante total é de cerca de 125 mil euros e este valor foi apurado por um perito avaliador independente”, pode ler-se na nota.

Mas na assembleia sucederam-se as acusações. “O metro fez o que lhe apeteceu, abusivamente, fez o que lhe dava jeito”, disse Margarida Penedos, do CDS, enquanto Isabel Pires, do BE, lembrou o historial do projecto, argumentando que existe um “contexto de incumprimento” continuado. Cláudia Madeira, de Os Verdes, assinalou ter recebido o comunicado do metro “às 23h43 da véspera do debate” para criticar a “obstinação” em construir a linha circular “contra tudo e contra todos”.

Pelo PCP, Fernando Correia declarou que estava em causa “um acto de grande insensibilidade social” e que a administração da empresa revelou “a mais elementar falta de bom senso”. “Será preciso lembrar o Governo e ao metro que a preocupação com as pessoas tem de estar em primeiro lugar?”, questionou mesmo.

Já o vice-presidente da câmara, Filipe Anacoreta Correia, interveio para garantir que a autarquia “não foi envolvida nem teve conhecimento prévio sobre a condução deste processo”. Deu o exemplo de uma produtora cinematográfica que pretende rodar um filme de grande impacto em Lisboa e abordou a câmara. “A preocupação dos produtores internacionais foi ver se era possível minimizar os impactos. Nesta situação isso não aconteceu. Tomamos devida nota”, declarou o centrista. Com Lusa

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