Como é que a bactéria da febre da carraça escapa ao sistema imunitário

Trabalho de equipa da Universidade de Coimbra.

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Os investigadores Isaura Simões, Pedro Curto e Andreia Barro DR

Uma equipa de investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra descobriu como é que uma bactéria responsável por doenças como a febre da carraça consegue escapar ao sistema imunitário humano.

A descoberta “abre portas ao desenvolvimento de novas terapêuticas contra doenças infecciosas”, afirmou a universidade em comunicado. “Ao contrário do que se possa pensar, as carraças não são as responsáveis pela febre da carraça, mas sim os microrganismos que podem estar no seu interior. A Rickettsia é uma das bactérias que podem ser encontradas em parasitas, como as carraças, pulgas ou piolhos, e que podem ser transmitidas aos humanos através da sua picada”, acrescentou-se.

A investigadora Isaura Simões adiantou, citada no comunicado, que os microrganismos infecciosos “possuem diversos mecanismos de escape” ao sistema imunitário humano. “Já suspeitávamos de que a proteína APRc, presente na superfície de Rickettsia, tem um papel importante na evasão da bactéria, mas neste estudo descobrimos que, para além disso, também a protege, impedindo que o sistema imunitário a elimine”, argumentou a cientista.

Já Pedro Curto, também investigador do CNC, explicou que, após a picada de uma carraça infectada, a bactéria “entra na corrente sanguínea, onde vai ser exposta a toda a maquinaria do sistema imunitário”. “Neste ponto, a prioridade da bactéria será proteger-se e entrar a todo o custo nas nossas células, pois a sua sobrevivência e capacidade de infecção dependem disso”, sustentou.

O estudo agora publicado demonstrou que a proteína APRc “consegue ligar-se a anticorpos presentes na corrente sanguínea, impedindo o ataque do sistema imunitário e actuando como um escudo”. Concluiu-se ainda que a proteína “oferece protecção extra à bactéria contra a actividade bactericida das proteínas presentes no soro (parte do sangue)”.

“Este é um passo importante da biologia fundamental e um contributo para o desenvolvimento de novas terapêuticas contra doenças infecciosas, que, infelizmente, estão a assumir um papel cada vez mais presente no mundo actual”, argumentaram os autores da investigação. As alterações climáticas “estão a favorecer estes parasitas, pois o aumento da temperatura global permite que estes estejam activos mais tempo durante o ano”, acrescentou o comunicado. “Como consequência, há uma maior dispersão geográfica de parasitas que podem transportar bactérias perigosas para a saúde humana.”

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