Quo Vadis, Aida? e O Pai conquistam Prémios Europeus de Cinema

Filme da bósnia Jasmila Zbanic fez o pleno da 34.ª cerimónia do cinema europeu, com três galardões: melhor filme, realização e actriz. Anthony Hopkins foi o melhor actor por O Pai, que levou também melhor argumento.

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Quo Vadis, Aida?, de Jasmila Zbanic DR

Entregues ao início da noite de sábado em Berlim, numa cerimónia “à porta fechada” devido à actual situação pandémica na Alemanha, os Prémios Europeus de Cinema não conseguiram com a sua edição 2021 sacudir dois dos problemas que já há muito os perseguem.

O primeiro: a sensação de que os prémios chegam “tarde” relativamente à vida comercial dos principais vencedores, que já tinham estado, todos eles, presentes aos Óscares em Março e já praticamente terminaram carreira comercial. Quo Vadis, Aida?, o filme da bósnia Jasmila Zbanic sobre o massacre de Srebrenica, nomeado para o Óscar de melhor filme estrangeiro, recebeu os prémios de Filme Europeu, Actriz Europeia (para Jasna Duricic) e Realização. O Pai, co-produção franco-inglesa que o dramaturgo francês Florian Zeller adaptou da sua própria peça teatral, repetiu em Berlim os dois Óscares que recebeu em Março – Actor Europeu, para Anthony Hopkins, e Argumento. E Uma Miúda com Potencial, produção anglo-americana financiada pela major Universal e dirigida pela britânica Emerald Fennell, que recebeu seis nomeações aos prémios de Hollywood, levou o prémio de Descoberta Europeia.

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Anthony Hopkins em O Pai, de Florian Zeller DR

A segunda questão que persegue os Prémios é a sensação tão europeia de “consenso bem-pensante”: os prémios-chave desta 34.ª edição couberam a um “filme de tema” que corresponde à própria definição de “filme europeu”, sendo uma co-produção oficial entre Alemanha, Áustria, Bósnia, França, Holanda, Noruega, Polónia e Roménia. Os concorrentes de Quo Vadis, Aida? na categoria de Melhor Filme eram Compartimento n.º 6 do finlandês Juho Kuosmanen (Grande Prémio em Cannes 2021), A Mão de Deus do italiano Paolo Sorrentino (Melhor Realização em Veneza 2021), O Pai e Titane da francesa Julia Ducournau (Palma de Ouro Cannes 2021). Dos cinco, apenas Florian Zeller não foi também nomeado para o prémio de realização, “substituído” pelo romeno Radu Jude, por Má Sorte ao Sexo ou Porno Acidental (Urso de Ouro Berlim 2021).

Jogar pelo seguro

Assim, no ano em que os prémios principais dos grandes festivais europeus foram para filmes que, mesmo quando eram de tema, corriam riscos artísticos (Má Sorte ao Sexo em Berlim, Titane em Cannes e O Acontecimento, de Audrey Diwan, em Veneza), os Prémios Europeus de Cinema jogaram claramente pelo seguro e preferiram um filme mais “unânime”, mesmo que com mais tempo em cima.

Até nos dois prémios atribuídos a Flee – A Fuga, do dinamarquês Jonas Poher Rasmussen, se adivinha a tentação do filme de tema. Candidato pela Dinamarca à pré-selecção do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, Flee recorre, como Valsa com Bashir de Ari Folman, à linguagem da animação para contar uma história verídica, a de um refugiado afegão, amigo de infância do realizador, forçado a confrontar o seu passado. O filme, que está já adquirido para distribuição em Portugal, recebeu em Berlim os prémios de Documentário (ganhando a títulos como O Senhor Bachmann e a Sua Turma, da alemã Maria Speth, ou Babi Yar. Context, de Sergei Loznitsa) e de Longa-Metragem Animada.

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A actriz Jasna Duricic em Quo Vadis, Aida? DR

Ainda assim, reconheça-se que a Academia Europeia de Cinema se mostrou “no ar do tempo” ao premiar um forte contingente feminino – para além de ter premiado filmes de e sobre mulheres como Quo Vadis, Aida? e Uma Miúda com Potencial, a cerimónia de sábado celebrou igualmente a veterana húngara Márta Mészáros (Prémio Europeu de Carreira) e a dinamarquesa Susanne Bier (Prémio de Sucesso Europeu no Cinema Mundial).

Mészáros, um dos raros nomes do cinema magiar a obter reconhecimento internacional (Urso de Ouro em Berlim por Adopção e Grande Prémio de Cannes por Diário Íntimo) e que completou este ano 80 anos de idade, tem visto a sua obra ser redescoberta nos últimos anos como pioneira no cinema no feminino dos anos 1960 e 1970. Bier, por seu lado, tem feito regularmente carreira fora do seu país natal – a dinamarquesa levou o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro por Num Mundo Melhor e o Emmy de realização pela adaptação de John Le Carré para os canais BBC e AMC The Night Manager, tendo igualmente dirigido o fenómeno de streaming Bird Box, com Sandra Bullock. O terceiro prémio de prestígio da noite, Inovação Narrativa, foi entregue ao britânico Steve McQueen, pela série de filmes para a BBC Small Axe.

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