Scholz reafirma compromisso do novo Governo de Berlim com uma UE “forte e soberana”

Cumprindo a tradição, a primeira visita do chanceler alemão foi a França — que assumirá a presidência da UE em Janeiro de 2022. Os temas da agenda europeia estiveram em discussão na segunda paragem do dia, em Bruxelas, onde Olaf Scholz defendeu a estratégia europeia de segurança e defesa e apoiou a resposta dos 27 contra a Rússia.

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Olaf Scholz com Emmanuel Macron em Paris THIBAULT CAMUS/EPA

A revisão das regras orçamentais da União Europeia, e também da sua organização institucional; o combate à nova vaga pandémica; a aposta na dupla transição verde e digital para promover o crescimento económico e fazer da Europa o primeiro continente neutro em carbono, e as provocações da Rússia aos países da vizinhança, particularmente a Ucrânia, foram os tópicos que o recém-empossado chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, abordou, esta sexta-feira, numa sucessão de reuniões com líderes europeus e também o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg.

O novo Governo em Berlim está comprometido com uma “UE forte e soberana” e interessado em desenvolver a “estratégia europeia de segurança e defesa” para que esta se torne um sucesso, confirmou Olaf Scholz, que deixou claro que está do lado dos seus parceiros e não tolerará “nenhuma ameaça contra nenhum país na nossa região”. “Estamos, naturalmente, muito preocupados com a actual concentração de tropas junto às nossas fronteiras”, afirmou.

Numa curta conferência de imprensa ao lado da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen — que exigiu a “cessação de todas as ameaças e provocações [de Moscovo] aos vizinhos da UE” — o novo líder germânico manteve as suas respostas curtas e evitou especular sobre decisões que os 27 terão de tomar nos próximos dias ou semanas, em função dos desenvolvimentos na fronteira da Ucrânia.

“A nossa tarefa agora é evitar que seja preciso reagir contra a Rússia”, observou, depois de acenar com a cabeça quando a líder do executivo comunitário garantiu que o bloco está preparado para retaliar a qualquer manobra agressiva vinda do Kremlin. “A UE quer ter uma boa relação com a Rússia, mas isso depende do seu comportamento”, vincou Von der Leyen. Se em vez de uma desescalada da tensão, a Rússia decidir agudizar o conflito com a Ucrânia, “a UE intensificará as sanções económicas e financeiras e tomar outras medidas em vários sectores. Qualquer agressão terá um preço”, prometeu a presidente da Comissão.

Von der Leyen, que conhece bem Olaf Scholz — os dois trabalharam juntos em dois governos liderados por Angela Merkel — lembrou a importância da Alemanha “no desenvolvimento da UE” e considerou um “sinal encorajador” que tenha passado por Bruxelas assim que foi empossado: oficialmente, tratou-se da segunda visita do novo chanceler, que cumprindo a tradição política, viajou primeiro para Paris, onde almoçou com o Presidente francês, Emmanuel Macron, que tem uma agenda ambiciosa para quando assumir a presidência do Conselho da União Europeia.

“Somos um grande país no coração da UE e sabemos que temos uma grande responsabilidade no nosso progresso comum”, justificou Olaf Schoz, assinalando a intenção do seu Governo de contribuir e participar activamente nos “grandes debates em curso sobre o futuro da Europa”.

Um desses debates diz respeito à revisão do Pacto de Estabilidade e Crescimento que enquadra a governação económica do bloco, e cuja aplicação foi suspensa, através da activação da cláusula de escape, por causa da pandemia. A Comissão abriu uma consulta pública sobre a revisão das regras e espera concluir esse processo antes da disciplina orçamental ser reposta, em 2023.

“Precisamos de inovar e de inventar as soluções mais apropriadas para a nova fase que vamos iniciar”, defendeu Macron, que vê o fundo de recuperação da crise “Próxima Geração UE”, assente na emissão de dívida conjunta, como um exemplo do tipo de “soluções pragmáticas” que podem ser replicadas no futuro.

O líder germânico não manifestou uma oposição de princípio à ideia, mas notou que há outras maneiras de promover e apoiar o crescimento económico e assegurar a sustentabilidade das finanças públicas. “Penso que as duas coisas não são contraditórias”, disse, aludindo ainda a “flexibilidades” nas regras da dívida da União Europeia. “É isso que nos une. E assim, vamos conseguir chegar a conceitos comuns”, declarou.

Scholz mostrou-se mais interessado em discutir o que chamou o “tópico da modernização industrial”, que classificou como fundamental para a transformação económica e o cumprimento dos compromissos climáticos da UE. “Este deve ser um projecto verdadeiramente europeu”, considerou, lembrando que mesmo os países que apostaram mais cedo em energias renováveis têm trabalho a fazer para a transição energética e o desenvolvimento da economia circular. “A Alemanha fará a sua parte, mas é preciso um grande esforço conjunto”, disse.

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