Entrada da EDP no Sudeste Asiático leva a revisão de acordo com a China Three Gorges

Parceria estratégica assinada há dez anos deixava à EDP o crescimento na Europa e Estados Unidos e à accionista chinesa CTG a aposta nos mercados asiáticos.

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A assinatura do contrato de promessa de compra e venda entre a CTG e a Parpública fez dez anos a 2 de Dezembro e teve como testemunhas os ex-ministros Paulo Portas, Vítor Gaspar e Álvaro Santos Pereira Daniel Rocha / PUBLICO
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Os ex-presidentes da CTG e da EDP, respectivamente Cao Guangjing e António Mexia Daniel Rocha / PUBLICO

A EDP anunciou esta sexta-feira que actualizou os termos da sua parceria estratégica com a accionista maioritária China Three Gorges (CTG) para reflectir objectivos de crescimento que também abarcam o continente asiático.

No comunicado desta sexta-feira, a empresa presidida por Miguel Stilwell de Andrade refere que os contornos da parceria estratégica “para promover a cooperação entre as duas partes e regular potenciais conflitos de interesses” serão revistos, tendo em conta “o posicionamento cada vez cada vez mais global de ambas as empresas e, em particular, a recente entrada da EDP no mercado Asiático”, mais concretamente no Vietname.

Quando venceu a privatização da EDP, em 2011, a empresa estatal chinesa comprometeu-se a investir cerca de dois mil milhões de euros na compra de activos renováveis da eléctrica (incluindo parques eólicos em Portugal), e ficou estabelecido que as duas empresas iriam “combinar esforços” para “se tornarem líderes mundiais de produção de energia renovável”.

Contudo, também se revelou então que caberia à EDP ser líder “na Europa (nos países onde está presente), EUA, Canadá, Brasil e outros mercados sul-americanos seleccionados” e à CTG “liderar nos mercados asiáticos onde está presente e/ou onde possui vantagens tecnológicas ou industriais”.

Mas, em Junho passado, a EDP (através da EDP Renováveis, sediada em Madrid) anunciou a entrada no mercado vietnamita com um investimento numa central solar com tarifa garantida por 20 anos, explicando que se tratava apenas do “primeiro passo no estabelecimento da posição da EDPR na região da Ásia-Pacífico”.

Além do Vietname, a EDP já está também na Coreia do Sul, em parceria com a Engie, através da empresa Ocean Winds, criada para investir em parques eólicos no mar (offshore).

Assim, a actualização do acordo com a CTG, dez anos depois da parceria inicial, “visa flexibilizar as estratégias de crescimento de ambas as empresas”, explica a EDP. O acordo permitirá assegurar a “aplicação dos mais exigentes padrões de governo societário nas suas relações futuras” e desenvolver “instrumentos de cooperação e de partilha de boas práticas, de modo a potenciar a maximização de valor para ambas as empresas e seus accionistas”.

Ou seja, no caso da EDP, a própria CTG (entre outros, como grandes fundos norte-americanos e do Canadá, ou a espanhola Masaveu) e, no caso da CTG, a República Popular da China, que, embrenhada na sua estratégia de expansão mundial conhecida como a Nova Rota da Seda (“One Belt, One Road”, em inglês) olha para o Sudeste Asiático como uma plataforma de hegemonia regional.

No Sudeste Asiático, a CTG tem já investimentos na Malásia, Mianmar, Tailândia e Laos.

Apoio na crise da dívida

A actualização da parceria entre a EDP e a CTG “será regida por um acordo revisto” entre as duas empresas “com vigência a partir da presente data”, refere o comunicado enviado esta sexta-feira, dia 10 de Dezembro, à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), sem adiantar mais detalhes sobre as novas regras que vão reger o relacionamento entre estas duas parceiras e rivais.

Sobre o que se passou na última década, a EDP recorda “marcos importantes” como “o suporte financeiro, por parte da CTG, durante a crise de dívida soberana na Europa, permitindo o fortalecimento do balanço”.

Isto porque outro dos compromissos assumidos pelos chineses quando compraram 21,35% da empresa então presidida por António Mexia foi o de garantirem o financiamento de instituições financeiras chinesas à EDP (China Development Bank e Bank of China) num montante até dois mil milhões de euros, com maturidade até 20 anos, para fortalecer o perfil de crédito da empresa.

Também se destaca “a cooperação e partilha de capacidades no desenvolvimento de diversas oportunidades de crescimento, nomeadamente em co-investimentos em centrais hidroeléctricas na América Latina” (a parceria com a EDP foi uma importante rampa de crescimento para a CTG no Brasil) e “iniciativas conjuntas na investigação e desenvolvimento de novas tecnologias”.

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