Cartas ao director

Pandemia: Portugal vs. Reino Unido

No seu comentário do último domingo na TVI, Paulo Portas, depois de ter chamado ignorantes cósmicos a um terço da população alemã (cerca de 27 milhões de pessoas) por não se terem vacinado, segue o seu pensamento analisando a provável “descida aos infernos” de Boris Johnson no Reino Unido. Elencou os cinco motivos dessa descida. A pandemia não está entre eles.

Na verdade, estranha-se bastante que nesta altura ninguém fale do Reino Unido. Estranha-se mas percebe-se porquê: o Reino Unido tem o dobro de infectados por milhão de habitantes nos últimos 7 dias relativamente a Portugal mas os mesmos 12 mortos por 1M/hab. no mesmo período. Se é verdade que relativamente aos 7 dias precedentes o número de infecções no RU subiu 5% e em Portugal 18%, ao passo que a mortalidade desceu por lá 2% e aqui subiu 25%, há um aspecto que pessoalmente considero essencial na comparação entre os dois países. É que no RU, mesmo com percalços, o governo cumpriu o que prometeu: passaram já alguns meses desde que, com excepção de entradas e saídas do país, todas as restrições foram levantadas, as máscaras e certificados vergonhosos desobrigados. Com os estádios de futebol, os bares e as discotecas cheias de gente sem máscaras ou distanciamentos, os números são os que se vêem. Não há como fugir deles e já nem se discute a repercussão a todos os níveis de que resulta uma e outra atitude.

Continuando a análise de Paulo Portas no que se refere à 3.ª dose da vacina, o comentador destacou as subidas da semana mas não mencionou quem liderava esse processo: o Reino Unido, evidentemente. Desde o início desta pandemia, é óbvio para todos (?) que o foco no combate ao vírus tem de ser centrado na população idosa. O RU pelos vistos percebeu isso e, pelo menos desde que existem vacinas, tem sido claramente mais eficaz que todos os outros neste combate, não necessitando de fazer perigar os direitos individuais das pessoas, mesmo se têm uma taxa vacinação em valores absolutos inferior à nossa.

Só não vê quem não quer ver. Neste país, com um presidente hipocondríaco e um governo em campanha eleitoral que delega continuamente competências suas na DGS, não se esperava na verdade outra coisa, o que é apenas desolador. 

Tomei a dose da Johnson’s há uns meses. Vacinei-me na consciência de que, não pertencendo a um grupo de risco, a mesma serviria unicamente para participar do tal número de imunidade comunitária possível. Infelizmente, o Estado português não cumpriu o “contrato” que impôs aos Portugueses. Posto isto, enquanto este Estado não levantar todas as restrições e obrigações, não me terá a mim para fazer número.

José Manuel Novo, Santa Maria da Feira

A DGS decidiu, bem

Desta vez não posso deixar de discordar totalmente do editorial de Manuel Carvalho. A DGS fez aquilo que muitas vezes a aconselharam: dar orientações claras sobre a direcção a seguir. Quem conhece bem a ciência médica sabe que a unanimidade não existe, que existem pontos de vistas convergentes no essencial, mas ocasionalmente discordantes nas premissas. Creio que ninguém quis sonegar informação. 

Na minha modesta opinião até existe informação a mais, desde a produzida pelos peritos até aos meios de comunicação que transmitem e comentam essa informação. A DGS tomou a decisão que entendeu ser melhor para a saúde comunitária. É essa a sua obrigação. Poderá, mais tarde, vir explicar porque decidiu assim, mas agora era a hora de decidir, de agir, e não de alimentar mais controvérsias, enquanto a pandemia prossegue o seu caminho.

Celso Maria Pontes, Vila do Conde

Aplauso ao Sr. Professor Santana Castilho 

Quero aqui aplaudir “de pé” o excelente artigo publicado hoje da autoria do Sr. Prof. Santana Castilho. Infelizmente o problema da burocracia que enumera, não se confina à educação das nossas futuras gerações, ela campeia por quase todos os outros sectores da vida nacional. Que o digam os profissionais da saúde, etc., etc., etc..

Mas, a meu ver, o problema não se atenuará, quanto mais erradicará, se a montante não se tiver a coragem política para acabar com as inúmeras instituições, comissões, direções, departamentos, serviços, etc., cujas competências e autorizações colidem muitas vezes entre si, gerando as tais entropias e atrasos de que nos fala o Eça de Queiroz. Quero ter esperança no futuro governo de Portugal. A Classe Política, que ponha os olhos na Alemanha. 

João Nabais, Rio de Mouro

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